As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Sábado, 27 de Fevereiro de 2010

Ultimamente descobri que:

 

1. Não posso falar muito. Duas horas a tomar café com amig@s são o inferno para a garganta, que arde, coça, doi, enfim, não gosta.

 

2. Se esse café for acompanhado com amig@s a fumar então é o drama, a tragédia, o horror. A garganta arde ainda mais, coça ainda mais e doi ainda mais. Desgosta ainda mais.

 

(Ontem foram 4 horas no café. QUATRO)

 

Estado gargantal: miseravel.

publicado por Silvina às 13:59

Terça-feira, 23 de Fevereiro de 2010

...na garganta. Tenho um monte de sarilhos na garganta. Depois da ultima consulta com o Dr. Lambard, e das muitas e boas drogas (legais) que ele me receitou, eis o senão: tomar tudo isto durante 6 dias.

 

Ok. 6 dias.

 

Mas E DEPOIS? E o 7° dia? E o 8° dia? No 7° dia ainda tolerei. Um pouco de dor, mas toleravel. No 8° dia ja não consegui dormir... Não tem piada Lambard! Drogas-me so durante 6 dias??? Não se pensa no amanhã? E agora? Ou te faço uma espera no hospital ou me armo em stalker e te ligo de 5 em 5 minutos... O que é que vai ser?

 

 

*Hoje o Flip esta preguiçoso, por isso não ha acentos para ninguém...


Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 2010

 

Agachadinha e com os olhos esbranquiçados!

 

publicado por Silvina às 19:23
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Isto funciona! Já tenho a pele muito menos vermelha!

publicado por Silvina às 19:20

Terça-feira, 16 de Fevereiro de 2010

Segunda-feira.

 

Último dia de radio. Apesar de não sentir um alivio tresloucado, estou, sim, aliviada. E sinto-me mais livre. A semana agora é toda minha, não tenho que a partilhar com a equipa do hospital, nem com médicos nem com outros doentes na sala de espera.

 

O meu corpo reage lentamente a 35 sessões de radio. Está cansado, mas ciente que é para andar pra frente. A cara pede muito creme, Biafine para a zona irradiada, maquilhagem bonita nos olhos e creme com ligeiro reflexo de pêssego, o buço já foi à vida, está quase tudo bem.

 

A paciência exercita-se, porque agora tem que esperar pelo Verão para averiguar os resultados da radio. Se funcionou ou não. Eu acho que sim. Mas agora é esperar. Lá mais para o Verão...

publicado por Silvina às 18:23

Domingo, 14 de Fevereiro de 2010

Estou doidinha para que assim que acabar a radioterapia:

 

- ir depilar este buço;

- encharcar a cara em cremes (que ja fui comprar para peles sensiveis);

- dormir até tarde e não me preocupar com as horas a que tenho que estar no hospital;

- usar maquilhagem como se não houvesse amanhã, principalmente fond de teint, muitoooo fond de teint, e rimel;

- poder responder a um "o que é que vais fazer hoje?" com um "não sei, não tenho nada planeado!"

 

publicado por Silvina às 02:26

Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 2010

5a feira

 

Acordo de manhã e tenho algo enfiado na garganta. Não desce, não sobe, imóvel. Tenho vontade de pegar num piaçá, enfiá-lo pela boca e esfregar, até que a garganta desentupa. E ter recorrido a uma imagem destas, de WC, só me verifica o desespero. Levanto-me e precipito-me em direcção à casa de banho. Tusso, cuspo, arranha, insiste, aguenta. Lavo os dentes com a minha escova pós-operatória, cuspo mais um bocadinho. Bochecho com um produto frio e vermelho, que ao gargarejar parece que tenho bolas de sabão dentro da boca. Cuspo-me toda, o espelho da casa de banho fica salpicado de manchas vermelhas. Alívio.

 

Saio de casa, contente e nervosa porque hoje é a consulta semanal com o Lambard. A última consulta semanal. Ele está contente, olha para mim, para os meus olhos com risco preto khol e melancólico, pergunta-me de imediato porque estou triste. "Porque tenho dores", respondo. Hoje é a minha vez de estar mais triste do que tu, Lambard. Faz um esforço para me animar, faz-me rir, observa-me, diz-me que está tudo bem, que o aspecto da minha pele do pescoço está "nickel" (=impecável). E deu-me codeina. Monteeeesss de codeína efervescente.O Lambard é amigo.

 

6a feira

 

Penúltimo dia de radio. Dia de enxaqueca. Dia passa rápido, rápido, passa rápido...

Estou mais contente porque é sexta-feira e está a chegar ao fim a rotina, mas ao mesmo tempo intrigada com o simbolismo do "está quase a acabar". Não, não está. A radio sim, as idas e voltas diárias ao hospital, a máscara, eventualmente as dores. Segunda-feira é o ultimo dia. Segunda-feira acaba a radio e eu vou sentir que entrei no limbo. Que agora volto a ter que ter paciência, a ter que esperar, a ter que achar que acabou quando sei que só se vai acabar em 2014. Quero ouvir o Lambard dizer, em 2014, agora é que acabou. Acabou-se o cancro.

 

publicado por Silvina às 19:35

Segunda-feira, 08 de Fevereiro de 2010

Apercebi-me que para além de leões ainda não tinha postado mais imagens. Faltava aqui um pouco de iconografia...

Tirei esta foto ontem [timezone: fim da 6a semana de radio]. Mostra a zona afectada pela radiação e a minha primeira cicatriz, mais longa, que serpenteia por ali abaixo para cumprir o seu destino e se enfiar numa dobra do pescoço.

Vê-se a vermelhidão típica da pele, como se fosse um escaldão, e o inchaço da zona ali do duplo queixo. Não tenho posto nada na pele para disfarçar o aspecto (nem cremes, nem bases, nem correctores, nadinha), mas saio sempre de casa com um lenço para tapar e também para proteger do frio (boa desculpa para comprar uns 5 lenços novos nos saldos). Na 5a semana senti a pele da cara muito seca e irritada e tinha muita comichão. Agora já está mais sossegadita. é suposto o vermelho desaparecer completamente dois meses após o final dos tratamentos. Vamos ver. Nunca fui muito de andar de vermelho...

 

 


reine clandestine*

 

 

 

*apanhei esta expressão no livro que ando a ler e emocionei-me.


Domingo, 07 de Fevereiro de 2010

Um dos palcos da WWII é dentro da minha garganta.

 

Um dos efeitos secundários da radioterapia é um inchaço na zona do pescoço, inconfortável e doloroso. Para além do que se vê do exterior, o inchaço está também no interior da garganta, o que provoca dores constantes ao engolir e a sensação de que os alimentos ficam sempre a meio caminho, entalados. Por mais que engula e beba litros de água, eles não descem. A sensação não passa. é chato. Nos dias em que estou mais irritada (=dorida) chamo a minha amiga codeina, que me alegra os dias e me acalma as dores. é uma rica amiga. Estou um pouco viciada na nossa amizade...


Sexta-feira, 05 de Fevereiro de 2010

"En ce qui concerne le stress, tout malade ressent le cancer comme une terrible injustice. On a envie d'avoir une cause, un coupable." Françoise May-Levin (cancérologue et bénévole à La Ligue contre le cancer), tirado de um artigo do L'Express.

 

 

Tenho um cancro ORL onde mais de 90% dos doentes são (ou foram) fumadores e/ou alcoólicos. Eu nunca fumei (os cigarros surf que fumei com 9 anos escondida atrás do muro da escola não contam), bebida claro que já bebi, como toda a gente. Sou exactamente como toda a gente. Como muitos legumes, porque faço uma alimentação pseudo-vegetariana -não como carne há 9 anos- mas peixe sim, e ovos, e queijo (hmmm tão bom queijinho de cabra). Porquê eu? Porquê eu, gaja saudável, com 27 anos, com estilo de vida saudável? é a pergunta que não tem resposta nestas histórias de cancro. é um daqueles azares da vida. Há uns bons outros maus. Para contrabalançar, também acho que o amor é um daqueles azares da vida. Senti-me tantas vezes com o rei na barriga, capaz de fazer tudo na minha vida, com total poder de decisão e escolha. Recentemente aprendi que não. Que há mesmo coisas incontroláveis, que se passam malgré nous, que nos invadem a existência e nos acordam de noite, e nos recheiam de stress e mal à l'aise.

Como acredito numa espécie de karma, género what goes around comes around (ja dizia o Bob), também acho que vai haver contrapartida. Ok, agora é o cancro. Sr. karma, o próximo azar que seja uma coisinha mais positiva sim? Para tirar esta barriga de misérias.

 



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