Não sei se é a minha força que os desconcentra, que os destabiliza. E o aconteceria se eu precisasse mais? Se eu fosse mais carente, mais duvidosa de espírito, menos aguerrida e mais adocicada? Seria mais fácil para os outros me ajudarem, sentido-se úteis e menos impotentes (apesar de não poderem resolver o problema, metiam a mão na massa).
Mas o que me aconteceria, a mim, que sustento a minha luta no movimento constante, que centralizo a minha força para controlar o que ainda é controlável, que me construo enquanto guerreira contra a adversidade, seja ela cancro ou outra qualquer? O que me aconteceria, se me enchesse de sentimentos de culpa, mentisse a mim própria, mascarando esta realidade que sinto, que é a minha? O que me aconteceria se não tivesse a coragem de, lutando contra um cancro, dizer o que penso, o que sinto, o que preciso?
(Farta deste mundo que julga à distância, que enfia sapatos imaginários que nem sequer são o seu numero, que cala e foge como se a maldade, a doença e a morte não existissem.)
Mantenham os silêncios enterrados, porque enquanto eu tiver voz hei-de os quebrar.