As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Quinta-feira, 08 de Setembro de 2011

Pronto o gânglio cervical já saiu. Entrei no hospital numa segunda-feira à tarde, a cirurgia foi na terça, durou 1h e pouco e na quarta já estava em casa. Dito assim até parece fácil. Mas não foi assim tão pão, pão, queijo, queijo. Porque esta que vos escreve é uma gaja assumidamente traumatizada. Assim que a enfermeira me veio picar o bracinho comecei a fungar. Mal ela virou costas, as lágrimas escorreram-me pela cara, e eu só pensava: "Oh não, estou aqui outra vez... Quando é que isto pára? Porquê eu?", e estas perguntas reviravam-se sem parar na minha cabeça. Depois tive que olhar bem para o braço dorido e pensar: "Porra. é só uma agulha lá enfiada. Daqui a uns dias sai. Não é nada de especial."

 

No dia X, assim que me levaram para o bloco já estava com olhos de cachorrinho abandonado. Mal cheguei ao bloco e senti os cheiros, o ambiente desinfectado, o vai-e-vem do pessoal médico atarefado, as lágrimas escorreram outra vez. Lembro-me de pensar que estava a ser ridícula. Afinal a operação era simples, com anestesia local, com um médico que eu conheço e com quem me entendo bem (e que ainda por cima é giraço). Mas o medo (terror?) foi mais forte e, em vez de um choro compulsivo, larguei as lágrimas numa fina corrente de água, em direcção ao lençol azul que me cobria, que ficou manchado com poças de lágrimas.

 

A única forma de me controlar foi pensar: "Não sejas parva. Pára de chorar. Isto é simples, e vai correr tudo bem." E repeti isto muitas vezes, como um mantra. Funcionou mais ou menos. Uma vez na mesa de operações, e já bem drogada da anestesia local assistida, ainda choraminguei, disse que tinha medo, e tive a enfermeira chefe a fazer-me festinhas no braço e o médico giraço a fazer voz de bebé e a falar comigo como se eu tivesse 5 anos. A situação era tão estúpida que me fez sorrir. E relaxei. E senti sem dor os cortes e as lacerações com um instrumento quente, e soube quando ele começou a coser para fechar a ferida. E não me fez a mínima confusão saber que me andavam a cortar toda, porque estava cheia de confiança. Eu sei que esta não foi a minha ultima operação. Mas alegra-me pensar que apesar de "fácil", esta operação exigiu de mim este mundo e o outro e eu, mais uma vez, consegui superar-me.

publicado por Silvina às 11:52

És uma grande mulher, miúda. Vais superar-te sempre.

Claro que ter um giraço ao lado, a fazer voz de bebé, ajuda :)


muitos beijinhos
Susana Neves a 8 de Setembro de 2011 às 13:17

As coisas que as gajas fazem para ter um giraço a fazer mimos!!!:) Continua assim, e com muita esperança, vai tudo correr pelo melhor! Beijinhos
margarida a 8 de Setembro de 2011 às 16:06

eheheh A sério que ter (vários) médicos giraços confere todo um outro encanto a estes meus episódios de radio! São o chamado efeito "eye candy" ;))
Silvina a 9 de Setembro de 2011 às 14:04

Parabéns pela coragem e força que te ajudaram a ultrapassar mais este desafio... e fico à espera de mais boas notícias.
Um abraço.
Eu a 10 de Setembro de 2011 às 16:12

Obrigada Eu :) Também fico à espera de poder dar boas noticias...
Um beijinho*
Silvina a 12 de Setembro de 2011 às 20:56

Silvina, vi um comentário seu no blog do Felipe Mota. Também tive câncer e tenho um blog sobre alimentação saudável e funcional. É o http://noticiasdacozinha.blogspot.com. Passe por lá, talvez se interesse. Beijos, Angela
Angela Fonseca a 11 de Setembro de 2011 às 23:45

Cara Silvina, recebi seu comentário no meu blog e publiquei meio sem pensar. Depois resolvi excluir, pelo que lhe peço desculpas. O problema é que tenho muitos seguidores portadores de ca e achei que a notícia sobre o Dr. Servan-Schreiber não estimula em nada quem luta contra a doença, mesmo levando em consideração que ele sobrevieu por 19 anos depois do diagnóstico inicial, quando lhe deram 6 semanas de vida. Espero que compreenda e volte a me visitar. Um abraço, Angela
Angela Fonseca a 12 de Setembro de 2011 às 00:52

Olá Angela, eu percebo a sua posição, mas discordo completamente. O David Servan-Schreiber escreveu um livro chamado "On peut se dire au revoir plusieurs fois", publicado em França 2 meses antes da sua morte. Nesse livro explica que tudo o que ele defendeu em "Anti-cancro" continua válido, e que a sua morte não altera em nada esse facto. Também fala da importância de se despedir, muitas vezes, de quem se ama, o que não significa baixar os braços e desistir de lutar contra a doença! Significa sim ser realista e preparar-se para essa eventualidade. Acho que é um exemplo encorajador de como se pode viver, lutando e resistindo até ao fim, e garantir que esse fim seja digno, e que estejamos rodeados de pessoas que amamos. é uma bela lição, um exemplo de força, que deve ser falado e não escondido. Mas esta é só a minha opinião. Continuarei a visitar o seu blog, que achei muito interessante! Um beijinho*
Silvina a 12 de Setembro de 2011 às 21:04



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