As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Quinta-feira, 01 de Dezembro de 2011

Quando temos cancro e passamos por momentos muito duros temos que nos focar em nós, no nosso tratamento, na nossa alimentação, no nosso corpo, no nosso bem estar. é suposto termos pessoas à nossa volta para nos ajudarem a fazer isso (família, amigos, equipa médica, etc.). Mas em última análise cabe-nos a nós controlar os nossos medos, digerir as emoções, encarar a possibilidade de morrer de cancro, suportar as dores físicas e psicológicas especialmente durante a fase dos tratamentos. Há doentes de cancro que, no meio disto tudo, ainda conseguem ajudar o outro, apoiar os outros, pensar primeiro nos outros e controlar os pedidos, os queixumes, fazer um sorriso quando só apetece atirar tudo contra a parede. Eu não sou um desses doentes. Eu tenho necessidade de me focar em mim, de pensar em mim primeiro, de me centrar no meu próprio sofrimento, em detrimento do bem estar dos que estão à minha volta. Eu sou uma bitch que não facilita e sofro com isso.

 

Em 2 anos e 2 meses de luta, tive 1 mês e meio de "folga" (=remissão). No resto do tempo tive que estar constantemente com as armas levantadas, queixo erguido, olhar determinado. Tive sempre que ter força, porque muitos dos que estavam à minha volta tiveram forças durante uns tempos e depois acabou. Muita gente atingiu o limite. Eu não. Não é por ser mais forte do que os outros, porque não sou. é porque no dia em que EU atingir o limite, tudo acaba. C'est fini. The end. Os outros podem-se ir revezando. Eu não. Eu sou só uma. Não posso passar o cancro a outro durante 2 semanas e ir de férias para a República Dominicana recarregar energias. é neste ponto que considero que a minha luta tem sido solitária. Não tenho ninguém que me carregue o fardo, ele é todo meu. Eu própria sei que já fui um fardo para muitos, durante demasiado tempo. Hoje recuso ser tratada como um cancro com pernas, uma pessoa-doença que "alguém" tem que se responsabilizar, tomar conta ou suportar.

 

Acho que por vezes sou extremamente egoísta, e pior!, acho que tenho o direito de o ser. Se calhar estou redondamente enganada. Ou se calhar sou só uma gaja brutalmente honesta.

publicado por Silvina às 14:35
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Querida Silvina,
Como a "prosa" era extensa, mandei-lhe um email, que, espero receba.
Abraço apertado.
M.
M. a 2 de Dezembro de 2011 às 00:55

Olá M., obrigada pelo e-mail, respondo em breve! :)
Um beijinho*
Silvina a 4 de Dezembro de 2011 às 15:57

Atenção que, por lapso, o endereço donde lhe mandei a mensagem, não é o meu. Já corrigi.
M. a 2 de Dezembro de 2011 às 01:22

Eu diria apenas que és humana.Nem egoista, muito menos bitch.

eijinhos grandes
Susana Neves a 2 de Dezembro de 2011 às 13:25

tens a postura que precisas ter ;) beijo gd
Maria Gata a 2 de Dezembro de 2011 às 19:50



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