As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Terça-feira, 13 de Março de 2012

Tenho andado com moleza, sem pachorra para pensar, sentir ou escrever. Tenho andado anestesiada com o ritmo das radios, as insónias, a comida e as idas à fisioterapia. Agora a radio acabou, correu tudo bem, estou com a pele vermelha e com um certo cansaço, mas nada de dramático. Alterno noites de 9h e 10h com outras de 4h ou 5h e não sei porquê. O Dr Lambard deu-me 30 embalagens de amostras de um creme La Roche Posay para ajudar a pele a voltar ao normal. Ainda me disse para trazer de volta as embalagens que não usasse e eu pensei "deves!" -um creme tão bom, vou usar tudo!

 

Também não tive cabeça para responder a alguns mails que me enviaram nestes últimos tempos. Mas respondo agora, aqui neste post, assim meio indirectamente, só para dizer que os mails que me enviam me tocaram profundamente. Ana, saber que o Help me Live te ajudou a ajudar a tua amiga foi mesmo fantástico e inacreditável; nunca pensei dizer isto, porque não sou do tipo de "ajudar" ou pensei que não era, mas fiquei mesmo contente por poder ter "prestado serviço". Graças aos mails e comentários que me têm enviado ou deixado aqui no blog apercebi-me que tenho uma voz, que tenho algo a dizer e que há pessoas que, ao contrário do que eu pensava, querem ouvir, querem saber. Pessoas a quem o meu cancro mete respeito mas não mete medo, pessoas que não se deixam contaminar pela saída mais fácil que é a distância, e que se interessam por MIM pela pessoa que eu SOU, e não somente pela doença que trago comigo. Isso foi revelador. Falei muito de vocês e deste blog com a minha psicóloga. Foram uma grande ajuda para eu olhar para dentro, perceber que tenho valor, que há pessoas que vêem isso e que o mostram.

 

Esse reconhecimento ajudou-me a (re)criar a minha nova identidade enquanto pessoa que sofre com um cabrão de um carcinoma muco-epidermáide mas que pode ser mais do que simples paciente, mais do que um corpo em sofrimento. Ainda aqui há uma pessoa por inteiro. Que é interessante, antes do cancro, mas também porque tem cancro. Não vou mais aceitar sentir-me diminuída quando não conseguir falar de mais nada que não cancro, quando invejar (e tenho esse direito) pessoas que têm mandíbulas e que acordam todos os dias sem dor, quando às vezes suspirar e desejar poder ter uma vida como os outros, conseguir trabalhar, ter um homem que me ame e que fique comigo e com o cancro. Apesar de ser uma chata que fala de cancro, radioterapia e medo de morrer como quem conta que embirrou com a senhora da caixa do supermercado, é assim que eu sou e é este o meu valor. As pessoas que não conseguem compreender isto têm um sério trabalho psicológico pela frente para entender as suas falhas e os seus limites. E dito isto, o próximo passo é deixar de me preocupar tanto com o que os outros pensam! E preocupar-me sim com o que demonstram, com o que dizem de positivo e que me traga boas energias! O resto não interessa.

 

publicado por Silvina às 14:56

Assim é que é falar.

Passo por aqui todos os dias, mas nem sempre comento, mas vou começar a fazê-lo, mais que não seja para lhe agradecer o que partilha connosco e dizer-lhe que vejo em si uma lutadora com muito valor mesmo. Que encontre tudo o que deseja, são os meus votos.

Beijinhos
helena a 13 de Março de 2012 às 16:44

Olá Helena, obrigada pela visita e pelas suas palavras encorajadoras.
Um beijinho*
Silvina a 16 de Março de 2012 às 16:18



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