As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Sexta-feira, 09 de Dezembro de 2011

E porque nem tudo é mau nestes meus episódios a brincar com o cancro, cá vão algumas fotos do meu quarto de hospital (público) durante a 7a operação.

 

(P.S.- Para aqueles que querem destruir o Serviço Nacional de Saúde em Portugal e acham que seguros e clínicas privadas é que é: ponham os olhos nisto! Onde TODA A GENTE tem o direito a ser bem tratada, e em óptimas condições. P.S.2- Sabem que se tiverem cancro as seguradoras privadas já não querem saber de vocês?)

 

 

 

 

 

 


Quarta-feira, 23 de Novembro de 2011

Tive alta 6 dias depois da intervenção. Ainda terei restrições de movimento e sobretudo não posso mesmo fazer esforços como aspirar, limpar a sanita de cócoras, esfregar a banheira, carregar sacos de compras, etc. Ainda não estou em mim como é que vou sobreviver sem essas minhas actividades preferidas que dizem respeito ao reino doméstico... Proibiram-me de andar de bicicleta durante 1 mês, 1 mês e meio. Nada de exercício físico, só andar a pé. Então hoje já andei 45min... Fui ver a psicóloga e o Dr Lambard, que ficou especado a olhar para mim porque me achou com muito bom aspecto para alguém acabadinho de ir à faca, e me fez muitos elogios que me souberam a mel, e às tantas levanta-se, começa a massajar-me o pescoço e diz-me com voz doce mas ao mesmo tempo firme: "Laissez-vous faire..." A minha mente viajou imediatamente para realidades porno-oníricas nunca antes exploradas...

 

Depois desse pequeno momento de tensão, lá discutimos o plano a seguir. Na próxima semana vou fazer um exame que vai determinar se faço um tratamento local (radioterapia ao gânglio) ou se passamos ao ataque com quimio pelo corpo todo. Medo. Acho que se não fosse a pseudo-massagem teria sido uma das minhas piores consultas de sempre. Assim os níveis de ansiedade estão mais ou menos controlados, e hoje ainda consigo pensar positivo e ter esperança que o exame não vai mostrar mais nada de novo.

 

[é impressionante como a minha vida se organiza em torno destes exames, e como o meu futuro se desenha em função deles]

publicado por Silvina às 21:24

Quinta-feira, 17 de Novembro de 2011

Que isto doi. So hoje é que me consegui levantar, estou completamente drogada de morfina (e gosto). Mais novidades em breve, que agora vou fazer fisioterapia!

publicado por Silvina às 10:47

Terça-feira, 15 de Novembro de 2011

...E quero ver se isto de postar pelo telemovel funciona. Se funcionar, e correr tudo bem na cirurgia, amanha por esta hora prometo dar noticias. À bientôt!

publicado por Silvina às 20:59

Sexta-feira, 11 de Novembro de 2011

Afinal não fui operada.

 

Fui vista pelo anestesista 5 dias antes de ser hospitalizada, e por um otorrino 1 dia antes de ser hospitalizada. Em ambas as consultas foi informada de pormenores difíceis de digerir e de sequelas bastante prováveis da operação: traqueostomia, entubação pelo nariz, possibilidade de ter as cordas vocais afectadas (logo, não conseguir falar), etc, etc. No dia da hospitalização vi a minha psicóloga e o Dr Lambard de manhã. Percebi que ele também estava hesitante. No meu intimo sabia que esta não era a decisão certa. Uma operação super complicada, pesada, que implicava um longo período de convalescença não era solução; porque o que me interessa agora é ter qualidade de vida, é ter uma vida.

 

Já no hospital o cirurgião veio falar comigo duas vezes. Eram 19h e ainda estava indecisa se ia ou não à faca no dia seguinte. Às 21h estava decidida. Cansada, com uma bruta enxaqueca, e depois de algumas lágrimas, só queria ir para casa. Não ia obrigar o meu corpo a passar por isto, quando todas as células do meu corpo diziam NÃO! E foi não que disse ao cirurgião, que foi muito compreensivo e me disse que eles (médicos) iam discutir mais uma vez sobre o meu caso, analisar bem todas as opções. Passadas 3h telefona-me e relata-me o novo plano...

 

Foi a primeira vez que recusei assim, à bruta e em cima da hora, um tratamento que segundo muita gente é uma maravilha: uma operação! O santo graal de um doente com cancro! Porque o facto de poder ser operada significa que ainda há alguma coisa a fazer (que não sou um caso perdido...). Mas não é bem assim. Quero deixar aqui o testemunho que é possível recusar uma cirurgia pesadíssima, se acharmos que não é o melhor para nós. Claro que foi agonizante ter que ser eu (e não os médicos) a tomar esta decisão. Mas o corpo é meu, o cancro é meu, a vida é minha. E nestes últimos dois anos aprendi a respeitar os meus instintos e feelings, e a escutar o meu corpo. E quando ele me diz NÃO, é não.

 

Importa também analisar o porquê desse não; tive pessoas a dizerem-me que é medo. Lamento informar, mas medo é outra coisa. Eu nunca tive medo de ser operada quando estava perfeitamente convencida que era o melhor para mim e que tinha que ser feito. Ou melhor, tive medo, claro, das sequelas, efeitos secundários, etc., mas não da operação em si. Uma pessoa próxima disse-me que me estava a deixar influenciar pela postura do meu médico Lambard, que hesitava quanto a esta operação desde o inicio. Talvez... Mas nunca fui pessoa de me deixar influenciar ao ponto de basear as minhas decisões nessas influências.

 

Quando uma solução clínica não nos convém, temos direito a ir procurar outra coisa. E eu fui.

 

Para a semana vou ser operada. E agora estou mesmo convencida. E vou mesmo à faca. Vamos retirar o nódulo do pulmão. Depois terei ainda que fazer mais radioterapia para atacar um gânglio linfático que apareceu no peito. Foi a surpresa do final de Outubro! Cabrões dos gânglios, que continuam a aparecer por todo o lado... Portanto, lá para Dezembro, mais episódios de radio me esperam.

 

Queria deixar aqui um agradecimento especial para todos os que pensaram em mim dia 9 e que me enviaram good vibes. Acho que essas boas energias todas contribuíram para que eu tivesse tomado a decisão certa... Por isso obrigada! E renovem os pensamentos positivos para a minha próxima cirurgia, dia 16 de Novembro de 2011 :)


Quarta-feira, 26 de Outubro de 2011

Ontem conheci o meu novo cirurgião torácico, um senhor já de uma certa idade, um pouco desdentado mas com um ar patusco e simpático. é o Professor Doutor, chefe de serviço (não sei como consegui consulta com ele, mistérios do sistema nacional de saúde francês...). Fez-me saber que vou ser operada dia 9 de Novembro. Dia 9, exactamente no mesmo dia do ano passado. Sinto-me um hamster na gaiola a correr sem parar na rodinha e sem sair do mesmo sitio. Tenho tido datas muito coincidentes: 4a e 7a operação no mesmo dia; inicio da radio em 2009 e em 2010 no mesmo dia. Isto é o Universo a gozar com a minha cara, a mostrar-me que sou um simples peão no vai-e-vem dos dias, que a minha vida é um padrão pré-definido de acontecimentos que se sucedem...

 

A operação vai ser lixada. O médico avisou-me logo de que seria muito dolorosa, porque vão ter que me abrir nas costas e afastar as costelas. E eu pensei: "Porra, dolorosa é sempre, se ele já me está a avisar é porque é REALMENTE muito dolorosa..." E depois disse-me: "Mas temos medicamentos para a dor, morfina, etc." E eu a pensar: "Oh amigo, morfina conheço eu muito bem, tomei-a durante 10 meses...". E depois explicou-me todas as possíveis coisas que podem correr mal. Sai de lá em pânico. Eu não quero ser operada. Eu não quero fazer mais nada. Eu não quero sofrer mais NA PELE as consequências deste cancro. Eu não quero mais uma cicatriz enorme nas costas, mais semanas de dor prostrada em casa, à mercê de alguém que trate de mim. Abomino a ideia desta dependência, de precisar de outra pessoa para me manter viva. Já sem falar nos sintomas de stress pós-traumático que tenho cada vez que estou num hospital e que penso no bloco operatório. Não quero mais ter que pedir ajuda aos outros, não quero mais ter que aceitar a ajuda proposta de algumas pessoas que, não sendo de todo as pessoas que eu gostava de ter ao meu lado, são as que ficaram. A lógica do cancro é toda ao contrário e baralha-me o sistema. Não quero mais ter que precisar de apoio. Estou farta deste precisar, precisar sempre. é um peso demasiado grande para mim e para os outros. Dou por mim a afogar-me em sentimentos de culpa, a colocar-me em causa constantemente, a duvidar de mim própria, das minhas intuições, das minhas emoções, do meu instinto.

 

Tenho duas curtas semanas para me mentalizar que vou à faca. E que vai doer à séria. Tenho duas semanas para arranjar forças dentro de mim, para recuperar a coragem que em dias como ontem me foge por entre os dedos. Tenho duas semanas para aceitar que vou ter que ser operada, e para cultivar a esperança que vai correr tudo bem. Que tem que correr tudo bem. E que vou ainda ter fôlego para esta sétima cirurgia, para a recuperação e para os tratamentos que terei que fazer a seguir. E, finalmente, tenho ainda que manter na mira o alvo final: dar cabo deste cancro e conseguir viver a minha vida como eu quero. Saudável.



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