O coracao é uma metafora.
Ter cancro no coracao agudiza-me a consciencia disso, hoje mais do que nunca. Tenho finalmente o coracao maior do que a cabeca, gracas ao cancro e ao fluido que me enche o peito e me oprime os pulmoes e o resto dos orgaos todos ali da zona até ao figado.
Vi-o pela primeira vez na ecografia. Um estranho tumor branco que se agarra à parede do meu coraçao.
(Podia arrancar agora com metàforas infinitas)
Nao sei quanto tempo me resta, quanto tempo vai levar para ele abraçar o resto do orgao, até o forçar a parar de bater. De uma forma inesperada, este coracao està mais vivo agora do que hà um ano atràs. Està maior agora do que sempre esteve. Està mais livre, mais aberto, e mesmo com um tumor que o sufoca sente-se menos oprimido. É este o poder das metàforas. Isso e intelectualizar-se uma situaçao, puxando para a literatura, para a arte, para a vida, em vez de se abandonar ao dramatismo.
(Posto ainda do hospital. Quando estiver na minha casinha respondo como deve de ser aos vossos comentarios -mas para ja queria dizer-vos o quanto fico contente de vos ter a todos ao meu lado, de sentir a força que vem de cada um de vocês, de me sentir acompanhada de ondas de pensamento positivo e boa energia. Uma vez o Dr Lambard disse-me que nao podia lutar sempre sozinha. Eu sorri para dentro e nao respondi, porque era complicado explicar-lhe isto das energias, das amizades cibernéticas, do me sentir acompanhada por pessoas que me querem bem mas que eu nunca vi... Nao sei se me tornei um bocado mistica, mas acredito no -e sinto mesmo- valor da vossa presença na minha vida, na minha luta. Um simples obrigada nao chega.)