Mudei-me há quase um mês. Procurei casa, instalei-me, comprei coisas para a casa, limpei muito e agora cá estou. Estatelada no sofá da minha nova casa. Revi pessoas que já não via há muito tempo e contei a muita gente o que me aconteceu. Lidei com reacções mais ou menos boas, pessoas chocadas ou sem reacção, incrédulas, envergonhadas. Pessoas que não sabiam o que me dizer, que não sabiam lidar com a palavra "cancro". Ainda há muita gente que acha que "cancro" é igual a "sentença de morte". Pois que não. Não é.
Tal como nem toda a gente que tem cancro tem que levar com quimioterapia, e já agora, quimioterapia não é a mesma coisa que radioterapia. Apercebi-me que anda aí muito boa gente mal informada, o que me fez pensar como é que é possível, visto o cancro estar-se a tornar a passos largos a primeira causa de morte em Portugal. E se nem toda a gente que tem cancro morre (graças ao senhor), imaginem o número de pessoas que tem/teve a doença, e o número de pessoas que conhece alguém que tem/teve a doença. E esta gente toda anda mal informada. Por isso, eu, de inicio envergonhada porque não gosto de expor a minha intimidade desta maneira, agora conto a toda a gente que tenho cancro. E espero não ser tratada como vítima, espero que as pessoas percebam que se tem que falar nisto a cru, que o cancro precisa de ser desmistificado e, se possível, gozado. Continuo a fazer piadas de cancro. Rio-me do cancro quase todos os dias. Alivia-me.