é verdade, o cancro assusta. Até a mim, que sou uma valente, que rosno ao cancro com plena convicção, que sou forte e sei bem disso, até a mim ele me assusta.
Deixei de me sentir embaraçada e admito-o.
Sei que não vou morrer de cancro (pelo menos não deste!), não me meteu medo de morte nem foi uma wake-up call para passar a dar mais valor à vida, e viver um dia de cada vez e carpe diem. Nada disso. Mas assustou-me o facto de sentir tão pouco controlo sobre a minha vida, e de não ver aí lógica nenhuma. Sou uma descrente, não vejo mão divina nem destino em ter cancro aos 27 anos.
é assustador ter uma doença que não passa, ou melhor, que só passa daqui a 5 anos. Estar doente ao ponto de mudar os meus planos de vida e ter que mudar duas vezes de país, não porque o escolhi mas porque estou doente.
Estar assustada é, ao mesmo tempo, um desafio. Estou mais atenta ao meu corpo, e às minhas necessidades, valorizo mais facilmente do que antes os momentos bons e os bons dias de trabalho, aqueles bem produtivos. Estar assustada permite-me também levantar a cabeça, erguer o queixo, (re)lembrar-me que eu sou eu e que vou vencer, vou levar tudo à frente. Se isto fosse um combate de boxe, I would be the champion.