Isto não tem sido fácil, lidar com o cancro e com a família. Acho que os piores momentos são quando tenho que dar más novidades. Eu, que sou filha, irmã, neta e enteada, tenho sempre que dar notícias a muitas capelinhas, com cuidado e com jeitinho. Porque as pessoas não são de ferro e não rosnam ao cancro como eu, reagem de maneiras muito diferentes. Algumas dessas reacções são das coisas que mais me custam, apesar de saber que não sou eu, mas sim o cancro, o responsável por muitas das lágrimas e olhos molhados com que me deparo.
Ao mesmo tempo irritam-me a lagrimita fácil, o pânico, o medo. Ao pé de mim não, se faz favor. Concentrem-se, esforcem-se, engulam as lágrimas se preciso for, enrijeçam, façam o que têm a fazer para não me despejar o drama para cima. Porque eu é que tenho cancro, eu é que vivo com isso, é a minha vida que ele compromete. O meu sentido egocêntrico apura-se quando penso no cancro e na família. E como cada um tem a sua, há os que sabem lidar com o assunto e os que ainda derivam com velas esfarrapadas. A minha família é de náufragos.

