Hoje tive um dia mesmo complicado. Acordo com um telefonema do hospital a dizer que tenho que lá ir com a maior urgência; explico que não estou no país, e que portanto não posso ir já amanhã; levo com a lição de moral de que "a saúde é a coisa mais importante na vida" (como se eu já não soubesse isso oh sua vaca); prometo que vou tentar alterar a minha viagem para poder ir ver a doutora na 2a feira com urgência. Perco o amor ao dinheiro e mudo a viagem (porque SIM, a saúde é MESMO a coisa mais importante).
Tento ligar à doutora cinco vezes.
à quinta consigo falar com ela que me diz: "então se vem daqui a uma semana está bem."
eu: "mas... Como assim? Isso quer dizer que já não há urgência? que esta tudo bem?"
doutora: "sim, sim, olhe, já nem vale a pena vir à consulta comigo, fale depois com o seu médico, quando ele voltar a meio de Agosto."
Fico verde. Tento mudar a viagem para a data em que estava antes deste dia do demo começar. Já não dá, tenho que perder ainda mais o amor ao dinheiro e alterar.
Conclusão: 260€ gastos para nada, dia completamente stressante a pensar "merda, mas o que é que eles descobriram nas análises que de tão mau é tão urgente?!" e uma enxaqueca.
Ao fim do dia encontro-me com 3 amigas de longa data, que ja não via há um par de anos, e conversámos de tudo como se nos tivessemos visto ante-ontem. Senti-me mais leve e sortuda de as ter na minha vida. Realmente um dia mais complicado vale a pena ser vivido se depois existem momentos destes, que podemos aproveitar em pleno, que são descomplicados e honestos, sem fingimentos ou artifícios. Falei de mim, falei do cancro, falei do Lambard, do trabalho, da escassez de homem, de como no Chiado abundam gays, de como em Paris gays abundam, e ouvi novidades do pai da J.M., que já se reformou e anda por ai a dançar com senhoras nos bailes do Alentejo todo contente. São momentos assim que me hidratam a vida, que lhe dão substância.