Os últimos posts aqui no blog têm sido um pouco deprimentes, porque andava à espera dos resultados das análises histopatológicas (=àquilo que foi retirado durante a operação). Ontem falei com o Lambard, que me explicou com muita calma e paciência o relatório feito pelo patologista. Confirmou-se a recidiva do cancro, 4 meses depois do fim da radioterapia, com um novo tumor localizado perto da zona de origem e também um gânglio afectado. A parte boa é que foi tudo retirado na cirurgia e as margens estavam todas saudáveis. Continuo a ser um mistério médico, porque ninguém percebe como é que um cancro de desenvolvimento lento se desenvolveu rápido o suficiente para formar um novo tumor em 4-6 meses. Também não vou fazer mais tratamentos. A quimio não funciona no meu caso, a radio pelos vistos também não foi muito eficaz, e portanto, só sobram a cirurgia e a vigilância. Vou fazer exames de 3 em 3 meses (rastreio completo: ressonância magnética, scanner aos pulmões, etc).
A conversa com o meu médico acalmou-me a ansiedade, e fez-me perceber a importância de ter uma boa relação com quem nos trata. Porque ele arranja sempre tempo para falar comigo durante 1hora e me acalmar, e me dizer coisas como "o importante é poder continuar a sua vida, os seus projectos", e me fazer ver que a característica que devo desenvolver nesta fase é a adaptação. Sinto-me a viajar num cruzeiro um bocado sem rumo, mas sei que ele não se vai embora, não vai desistir, não me vai abandonar. E que com ele vou até onde for preciso, aguento o que for necessário, para daqui a 5 anos poder dizer que estou viva, e livre disto. é mesmo intrigante a relação tão intima que se estabelece com um estranho, devido às suas competências e às minhas fragilidades médicas. Sou uma lamechas e enviei um mail de agradecimento ao Lambard. Porque ele tem feito mais do que era "suposto", e porque é isso que me ajuda a reencontrar o meu zen.