As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Domingo, 30 de Outubro de 2011

 

:)


Sexta-feira, 28 de Outubro de 2011

Às vezes ainda tenho a sensação que isto tudo não me está a acontecer a mim. Que é outra pessoa que está a passar por isto tudo, que tem que viver com um cancro muito raro, agressivo e imprevisível. Depois abano a cabeça e penso: "que estupidez, claro que sou eu, é a mim que isto está a acontecer."

 

Já passaram dois anos desde o primeiro diagnostico de carcinoma muco-epidermóide. E às vezes ainda me custa a acreditar. Não sei se um doente de cancro algum dia aceita plenamente esta guilhotina que lhe colocam no pescoço, esta realidade que transtorna tudo, que muda tudo, passado, presente e (hipotético) futuro.

 

E nestes dias em que me sinto estrangeira no meu corpo, fecho-me em casa e recuso assumir esta minha vida.

 

Amanhã é outro dia.


Quarta-feira, 26 de Outubro de 2011

Ontem conheci o meu novo cirurgião torácico, um senhor já de uma certa idade, um pouco desdentado mas com um ar patusco e simpático. é o Professor Doutor, chefe de serviço (não sei como consegui consulta com ele, mistérios do sistema nacional de saúde francês...). Fez-me saber que vou ser operada dia 9 de Novembro. Dia 9, exactamente no mesmo dia do ano passado. Sinto-me um hamster na gaiola a correr sem parar na rodinha e sem sair do mesmo sitio. Tenho tido datas muito coincidentes: 4a e 7a operação no mesmo dia; inicio da radio em 2009 e em 2010 no mesmo dia. Isto é o Universo a gozar com a minha cara, a mostrar-me que sou um simples peão no vai-e-vem dos dias, que a minha vida é um padrão pré-definido de acontecimentos que se sucedem...

 

A operação vai ser lixada. O médico avisou-me logo de que seria muito dolorosa, porque vão ter que me abrir nas costas e afastar as costelas. E eu pensei: "Porra, dolorosa é sempre, se ele já me está a avisar é porque é REALMENTE muito dolorosa..." E depois disse-me: "Mas temos medicamentos para a dor, morfina, etc." E eu a pensar: "Oh amigo, morfina conheço eu muito bem, tomei-a durante 10 meses...". E depois explicou-me todas as possíveis coisas que podem correr mal. Sai de lá em pânico. Eu não quero ser operada. Eu não quero fazer mais nada. Eu não quero sofrer mais NA PELE as consequências deste cancro. Eu não quero mais uma cicatriz enorme nas costas, mais semanas de dor prostrada em casa, à mercê de alguém que trate de mim. Abomino a ideia desta dependência, de precisar de outra pessoa para me manter viva. Já sem falar nos sintomas de stress pós-traumático que tenho cada vez que estou num hospital e que penso no bloco operatório. Não quero mais ter que pedir ajuda aos outros, não quero mais ter que aceitar a ajuda proposta de algumas pessoas que, não sendo de todo as pessoas que eu gostava de ter ao meu lado, são as que ficaram. A lógica do cancro é toda ao contrário e baralha-me o sistema. Não quero mais ter que precisar de apoio. Estou farta deste precisar, precisar sempre. é um peso demasiado grande para mim e para os outros. Dou por mim a afogar-me em sentimentos de culpa, a colocar-me em causa constantemente, a duvidar de mim própria, das minhas intuições, das minhas emoções, do meu instinto.

 

Tenho duas curtas semanas para me mentalizar que vou à faca. E que vai doer à séria. Tenho duas semanas para arranjar forças dentro de mim, para recuperar a coragem que em dias como ontem me foge por entre os dedos. Tenho duas semanas para aceitar que vou ter que ser operada, e para cultivar a esperança que vai correr tudo bem. Que tem que correr tudo bem. E que vou ainda ter fôlego para esta sétima cirurgia, para a recuperação e para os tratamentos que terei que fazer a seguir. E, finalmente, tenho ainda que manter na mira o alvo final: dar cabo deste cancro e conseguir viver a minha vida como eu quero. Saudável.


Segunda-feira, 17 de Outubro de 2011

Só mais um videozinho para atestar que o Ibrahim é adorável... E esta interacção em francês como o público faz-me suspirar profundamente...

 

 

[sim, ainda não me passou a paixoneta. O Ibrahim dedicou o seu 3°. álbum à sua esposa Pauline. Porque ainda não conhecia a Silvina.]

publicado por Silvina às 00:18


*Ou musicas que me emocionam, que me fazem sentir viva

 

 

Tive a sorte de falar com o Ibrahim depois do concerto. E já meia apaixonada, porque para além de uma presença e de uma energia excepcionais em palco, ele tem também uns olhos e um sorriso lindos. Ainda lhe pedi desculpa por ter chegado atrasada ao concerto, mas que ao menos tinha chegado a tempo de ouvir a minha musica preferida. Essa, ai do vídeo. E ele, que nos concertos ao vivo não tem por habito tocar as musicas dos CDs, sorriu e disse-me que foi a única que tocou. E eu sorri também e imaginei que foi uma prenda do Ibrahim para mim. Que ele resolveu tocar o Will Soon Be a Woman só para mim.

publicado por Silvina às 00:02

Domingo, 16 de Outubro de 2011

E hoje vinha no TGV a levar com um solinho na cara, a ouvir musica com os meus super phones AKG k450 brancos e estilosos, e ao fechar os olhos devagarinho pensei no momento feliz que estava a ter. E é por saber que ainda posso sentir profundamente este tipo de coisas que tenho vontade de continuar viva. Não é pelo que tenho ou deixo de ter, não é pelas pessoas à minha volta que gostam de mim, não é pelos sonhos e pelos projectos de vida idealizados; é sim, por sentir ainda as coisas com todos os bocados e trapos do que sou.

publicado por Silvina às 23:52
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Quarta-feira, 12 de Outubro de 2011

Já disse que hoje acabei a radio? Correu tudo bem. Foi assim:

3 semanas.

12 sessões.

1 cicatriz.

4 consultas com o médico giraço com o perfume mais estonteante do mundo.

publicado por Silvina às 23:40


 

Lila Downs canta Alcoba azul. Ashley Judd e Salma Hayek dançam um tango no filme Frida.

 

La noche ira sin prisa de nostalgia
Habrá de ser un tango nuestra herida
Un acordeón sangriento nuestas almas
Seremos esta noche todo el día

Vuelve a mí
Ámame sin luz
En nuestra alcoba azul
Donde no hubo sol para nosotros

Ciégame
Mata mi corazón
En nuestra alcoba azul
Mi Amor

 

 

publicado por Silvina às 23:16


GIBBS: Family is more than just DNA. It's about people who care and take care of each other.

NCIS s09e04



Segunda-feira, 10 de Outubro de 2011

Cá estou mais uma vez à espera de um exame que me vai decidir a vida.

Estou farta de pensar e sinceramente não sei como consigo continuar a fazer isto. A esperar. E a tentar funcionar normalmente enquanto espero.

Hoje estou cheia de dores de estômago, já não sei se é do nervoso se foi do "chilli con soja" que comi ao almoço. E a cabeça anda um turbilhão. Gostava de ter o super-poder de olhar para dentro de mim e compreender todos os mecanismos e todas as emoções. Fazer sentido de tudo isto que se passa cá dentro.

 

Esperar sucks.

publicado por Silvina às 16:44


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