Tenho uma memória que me salva de muitos maus momentos, que se apaga a ela própria nos momentos certos, como um "CUT" no set de uma filmagem. Estou há quase 3 semanas no hospital. Escrevo neste momento de uma cama de hospital. Algumas coisas permanecem gravadas e sentidas, como o frio glacial que me paralisou as costas (e o corpo todo a bem dizer) no pós-operatório, antes de me levarem para o recobro. Lembro-me do frio, tanto frio. Lembro-me das dificuldades a respirar, da enfermeira estúpida que não percebia o que eu, meia drogada, queria dizer. Lembro-me de passarem 3 dias, e de achar desumano não me deixarem ver as minhas amigas durante 3 dias. Na verdade tinha passado uma noite. Lembro-me cada dia que passa mais vagamente da primeira semana no hospital. Lembro-me de não falar, não respirar sozinha, e de precisar de uma data de tubos para me manter em vida.
Hoje os tubos foram-se. Eu mantenho-me em vida sozinha. E vou-me sempre lembrar desta grande vitória. E o resto dos meus dias vão ser uma grande vitória, porque passei tudo isto mais o que já me esqueci para ter direito a vivê-los.