Já não é a primeira nem a segunda vez que oiço de várias pessoas amigas a frase: "desculpa, mas eu não sou forte como tu." como desculpa por uma distância que julgam necessária, e um afastamento que julgam o melhor a fazer. Eu sei que não são fortes como eu. Porque não são eles que têm cancro; porque senão seriam tão fortes como eu. Porque o cancro não oferece escolha. Ou se é forte e se luta, ou (e a alternativa não é agradável) se deixa ir abaixo e eventualmente se perde a batalha.
Quando soube que tinha cancro e percebi que tinha de me encher de coragem para enfrentar isto agarrei-me a tudo o que fazia sentido na minha vida. Recorri a todos os pontos positivos do meu ser, à amizade dos meus amigos, ao carinho e ajuda material da família, agarrei tudo o que podia. Concentrei em mim uma explosão de energia, uma espiral de good vibes e pensamentos positivos. Era a única forma de continuar a viver, a tratar de mim, de cabeça erguida. E fiz isto por mim, mas também pelas pessoas que estão à minha volta. Porque elas também merecem que eu lute, que estrebuche, que me sacuda, que não me deixe ir abaixo, que não seja vencida por este cancro. Eu importo, mas os outros também. E é ai que vou buscar a minha força, que não me é toda inata: a força trabalha-se, empresta-se, ganha-se, cultiva-se.