Antes da operação de Novembro e dos tratamentos pesava cerca de 63kg. Depois da operação fiquei com 58kg. Quando cheguei aos 56kg fiquei mesmo contente, pois era o meu peso ideal, que já não conseguia atingir desde os meus 14 anos (ya...). Sentia-me bem, cheia de energia, gira e boa. Depois com os tratamentos vieram as dores, as dificuldades cada vez mais agrestes para comer, os enjoos da quimio, e a perda de 2-3 kgs a cada ciclo de quimio. Deixei de conseguir comer, só conseguia ingerir líquidos ou comida toda passada. Os batidos foram meus amigos por uns tempos, mas às tantas nem isso conseguia engolir porque tudo era ácido, tudo me provocava mais dores na boca e garganta. Cheguei a chorar de dor muitas vezes enquanto comia. O jantar prolongava-se por 3 horas. Inevitavelmente perdi peso. Chegou-se a falar de sonda gástrica, contra a qual lutei com todas as minhas forças (trauma das 3semanas com sonda nasal que entretanto se transformou em fobia de ter tubos enfiados no nariz ou na boca).
Escapei da sonda mas não do olhar chocado de quem me rodeava. Passei a evitar tomar banho, porque o choque que tinha ao ver-me ao espelho era brutal, e não conseguia encarar com normalidade o momento de me enfiar debaixo de água a esfregar os ossos. As pessoas olhavam-me quase com lágrimas nos olhos, e eu a sentir-me cada vez mais feia e miserável. O meu pai até me chegou a acusar de estar anoréctica, enquanto comia batatas fritas à minha frente. Bati com a mão na mesa e, aos gritos possíveis com a minha voz rouca, disse-lhe que só não me estava também a empanturrar de batatas porque não podia, porque não conseguia (e ainda hoje não consigo).
Senti muitas vezes culpa e responsabilidade pelos 45kg que cheguei a ter. Mas a verdade é que eu não tive a culpa. Eu fiz esforços incríveis, fiz o melhor que pude. Às tantas deixei de me pesar. Hoje acho que cheguei aos 50kg, mas estou-me a cagar para o olhar dos outros, e já não me sinto feia. Aproveitei e comprei uma mini-saia, a primeira que tenho na vida, a um mês de fazer 29 anos. É nisto que o meu novo "eu pós-cancro" se centra. Na mudança positiva, na transformação de uma situação menos boa numa oportunidade de fazer e usar coisas que antes nunca iria ter coragem de usar. Hoje exibo o meu pernão sem ter vergonha das coxas ou dos joelhos gordos.
E não admito mais bitaites dos outros sobre o meu peso; se quando cheguei a pesar 68kg ninguém me disse "ai credo, tens de perder 10kg!", então agora também não admito que me digam "ai credo, tás tão magra, precisas de engordar uns 10kg!". Eu é que sei do meu peso, e acima de tudo, sei que não é a balança que determina como me sinto. Sinto-me bem agora, não quero nem saber quanto peso. Estou magra sim, mas também estou gira e só preciso de ganhar músculo no rabiosque (meta a atingir assim que conseguir fazer desporto).