Meti-me num avião low-cost e fui 4 dias a Itália. As minhas primeiras férias desde Setembro, porque para mim férias é quando finalmente posso/consigo desligar do cancro, e tenho saúde suficiente para me bazar de avião. Não foi fácil ter que enfrentar o olhar dos outros quando tentava sorver massa no restaurante, nem quando demorava 1h30 para comer uma pizza com bocados a sair pela boca. Não foi fácil tentar falar italiano, sobretudo porque nem quando falo a minha língua materna me percebem bem. MAS valeu a pena. Fui, descansei, andei kilometros, vi paisagens lindas, e provei a mim própria que consigo viajar sozinha, como dantes. Vi uma menina bonita no comboio e quase que chorei porque ela tinha um pescoço que me fez lembrar o meu há uns tempos, antes de ser massacrado. Tive que me concentrar para expelir a emoção e parar de choramingar o que perdi para sempre. Tenho esse longo caminho pela frente, ter de aceitar que mudei e não me sentir fragilizada por isso. E tomei a decisão de fazer uma cirurgia plástica assim que puder. Não quero que ninguém saiba o que passei só de olhar para mim. Reivindico o privilégio de ser eu, e não o meu pescoço, a contar a minha historia.