às vezes vou ler blogs de outras pessoas com cancro. Gosto de sentir a compaixão da miséria alheia. Reparo que em (quase) todos há referências a Deus, ao marido e aos filhos. Eu não tenho Deus, nem marido, nem filhos. Há referências à família, sempre presente e próxima, à casa, o cantinho onde se sentem bem e onde têm os seus hábitos instalados. Eu não estou na minha casa. Estou numa casa que fiz minha à força, enquanto achar que preciso de estar perto do hospital. A minha família está sempre presente, mas nada próxima, geograficamente falando.
Mas tenho os meus hábitos instalados, as minhas rotinas que me consolam. Tenho Paris. Tenho amigos. A Gaja, a M., e a Boneca, que vêm cá ter comigo, partilhar comigo este espaço mimoso onde moro, que me acompanham às sessões de radio e que me mantêm equilibrada, eufemizam-me* as dores, desvalorizam os meus dramas. A elas, e ao resto dos amigos (família incluída!) que estão mais perto ou mais longe desta cidade, obrigada.
*não sei se existe, mas se não existir, estou-me cagando, a partir do momento em que a escrevi começou a existir :)