As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Quarta-feira, 26 de Outubro de 2011

Ontem conheci o meu novo cirurgião torácico, um senhor já de uma certa idade, um pouco desdentado mas com um ar patusco e simpático. é o Professor Doutor, chefe de serviço (não sei como consegui consulta com ele, mistérios do sistema nacional de saúde francês...). Fez-me saber que vou ser operada dia 9 de Novembro. Dia 9, exactamente no mesmo dia do ano passado. Sinto-me um hamster na gaiola a correr sem parar na rodinha e sem sair do mesmo sitio. Tenho tido datas muito coincidentes: 4a e 7a operação no mesmo dia; inicio da radio em 2009 e em 2010 no mesmo dia. Isto é o Universo a gozar com a minha cara, a mostrar-me que sou um simples peão no vai-e-vem dos dias, que a minha vida é um padrão pré-definido de acontecimentos que se sucedem...

 

A operação vai ser lixada. O médico avisou-me logo de que seria muito dolorosa, porque vão ter que me abrir nas costas e afastar as costelas. E eu pensei: "Porra, dolorosa é sempre, se ele já me está a avisar é porque é REALMENTE muito dolorosa..." E depois disse-me: "Mas temos medicamentos para a dor, morfina, etc." E eu a pensar: "Oh amigo, morfina conheço eu muito bem, tomei-a durante 10 meses...". E depois explicou-me todas as possíveis coisas que podem correr mal. Sai de lá em pânico. Eu não quero ser operada. Eu não quero fazer mais nada. Eu não quero sofrer mais NA PELE as consequências deste cancro. Eu não quero mais uma cicatriz enorme nas costas, mais semanas de dor prostrada em casa, à mercê de alguém que trate de mim. Abomino a ideia desta dependência, de precisar de outra pessoa para me manter viva. Já sem falar nos sintomas de stress pós-traumático que tenho cada vez que estou num hospital e que penso no bloco operatório. Não quero mais ter que pedir ajuda aos outros, não quero mais ter que aceitar a ajuda proposta de algumas pessoas que, não sendo de todo as pessoas que eu gostava de ter ao meu lado, são as que ficaram. A lógica do cancro é toda ao contrário e baralha-me o sistema. Não quero mais ter que precisar de apoio. Estou farta deste precisar, precisar sempre. é um peso demasiado grande para mim e para os outros. Dou por mim a afogar-me em sentimentos de culpa, a colocar-me em causa constantemente, a duvidar de mim própria, das minhas intuições, das minhas emoções, do meu instinto.

 

Tenho duas curtas semanas para me mentalizar que vou à faca. E que vai doer à séria. Tenho duas semanas para arranjar forças dentro de mim, para recuperar a coragem que em dias como ontem me foge por entre os dedos. Tenho duas semanas para aceitar que vou ter que ser operada, e para cultivar a esperança que vai correr tudo bem. Que tem que correr tudo bem. E que vou ainda ter fôlego para esta sétima cirurgia, para a recuperação e para os tratamentos que terei que fazer a seguir. E, finalmente, tenho ainda que manter na mira o alvo final: dar cabo deste cancro e conseguir viver a minha vida como eu quero. Saudável.

publicado por Silvina às 22:45

Deixa o universo gozar. Como diz o povo "quem ri por último ri melhor" (mais coisa menos coisa, é esta a ideia.

Vai correr tudo bem Silvina

Um grande beijinho
Susana Neves a 27 de Outubro de 2011 às 22:03

Obrigada Susanita pelas tuas palavras de esperança.
à medida que se vai aproximando a data, eu sinto mais força e determinação. E tenho conseguido controlar o medo q.b. ;)
Um grande beijinho*
Silvina a 27 de Outubro de 2011 às 22:08

A fasquia está muito alta,sim...
Espero que consigas!!!! Força !!
Beijinho.
M.J.P. a 28 de Outubro de 2011 às 15:23

Obrigada pela força M.J.P.!
Um beijinho*
Silvina a 28 de Outubro de 2011 às 17:53

falei em ti no teu blog e publiquei o endereço do teu blog, espero que não te importes. se não te agradar, diz, que eu retiro,ok?
beijinho e força!
Monóloga a 29 de Outubro de 2011 às 11:57

Não me faz a mínima espécie, e gostei muito do que li no teu blog! Obrigada pelas tuas palavras e pela força...
Um beijinho*
Silvina a 29 de Outubro de 2011 às 22:10

queria dizer, "falei em ti no MEU blog..."
Monóloga a 29 de Outubro de 2011 às 13:22

Querida Silvina,

Mas por que raio não estou eu ao pé de ti, para te abraçar?
Estou com todo o tempo do mundo, para ti.
Se achares bem, escreve-me para o email (guidapalhota@gmail.com) e, se te apetecer estar comigo e estiveres em Portugal, diz-me onde posso encontrar-te, que eu vou ter contigo.
Tu és uma mulheraça, tens aguentado tudo e mais um par de botas, mas já chegava, bolas. Já chegava!
Promete, no entanto, que vais confiar mais uma vez, e que te vais safar e ser muito feliz no futuro.
Gosto muito de ti. Obrigada por tudo.

Mil beijos

*___*

P.S. Também me apetecia partilhar a tua história no meu blogue... Mas só se isso não te causar mal-estar...
Margarida Faro a 29 de Outubro de 2011 às 15:26

Querida Guida, que bom ler o teu comentário e sentir de facto o teu carinho e as tuas boas energias! E também saber que entendes perfeitamente os meus "queixumes operatórios"...
Não estou em Portugal, mas quando estiver está combinado um cafezanço onde quiseres! Vou escrever-te sim. Mi aguarda!
Podes falar à vontade sobre mim no teu blog, quando é lamechice da boa eu gosto muito! ;)
Beijinhos grandes e obrigada por estares ai, desse lado, comigo.
Silvina a 29 de Outubro de 2011 às 22:19



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