Estou a ouvir o Ibrahim Maalouf ao vivo na France Inter. A música dele é um grito de revolta, um sismo musical que me destabiliza completamente. No inicio de Dezembro comprei bilhete para o concerto (único) que ele vai dar em Paris, dia 20 de Janeiro. Não vou poder ir. Parece estúpido (e talvez coisa pouca comparado por exemplo com um maxilar), mas até isto o cancro me roubou. Sonhava há dois meses com este concerto. Porque sei que a música dele me faz falta, porque é uma oportunidade de sentir, de me exprimir, de me deixar ir e de me libertar. Consigo cheirar o concerto, de tão próximo que ele está, mas eu estarei no hospital rodeada de morfina e de drenos. Chateia-me pensar que vou perder um momento único. Que um concerto deste gajo tem uma energia que não se imita, que não se reproduz noutro espaço físico nem temporal. Um concerto tem "a time and a place". é frugal. Acontece num instante preciso.
[1993. O Ibrahim foi sozinho ao Líbano (de onde a família dele é originária). Foi a primeira vez que se passeou sozinho por Beirute, cidade devastada pelas bombas e pela guerra. Contudo, encontrou muitos edifícios também reconstruídos. Em 17 anos de guerra, as pessoas reconstruíam edifícios novos, após a destruição. Uma reconstrução provocada pela destruição e vice-versa.]
Um único pensamento me consola, a esperança que o Ibrahim fará outro concerto em breve, e que eu não seja operada na véspera. E que, de algum modo mágico, as mesmas energias a que me referi anteriormente marquem presença...