Antes dos Trovante, já Fernando Pessoa exprimia este sentimento de saudade pelo que está para vir, nostalgia da infância que não se teve, misto de coração apertado de tentar ser outro e o próprio ao mesmo tempo. Coexistir sem existir limitação de tempo; sem haver a dimensão do tempo. Esse mesmo tempo que me assombra e me mede os dias. Odeio-o. E festejo-o ao mesmo tempo. Já passou um ano. 365 dias, muitas horas e minutos e ainda não morri.
Mas todos os dias penso nessa certeza de todo o mortal, que não podemos fugir ao tempo. E sinto muitas saudades do futuro que me prometi, do mar de possibilidades que se tem aos 20 e poucos anos. Tenho saudades das ilusões, dos moinhos de vento, das convicções inabaláveis e da sabedoria adolescente tão definitiva que tinha. Saudades dos meus pilares não serem abanados, uns, ou não terem morrido, outros. às vezes viajo no tempo no século XXI. E tenho ardentes saudades do meu futuro, o que devia viver, o que me estava destinado noutro canto da História. Estou presa, confinada a um presente que não me deixa cortar amarras, e tenho o resto dos pilares que me restam de molho, à espera que a madeira apodreça e que a casa entorte.
(Só alusões a Veneza, que foi uma viagem muito -demasiado?- introspectiva)