As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Terça-feira, 15 de Maio de 2012

"But I don’t know if [my mom] is proud of my cancer experience. I always let her know what is going on when there is new information, but she never instigates the “how is your head?” ask. To be honest, I think my cancer scares her, and makes her sad. I know for a while she was depressed and she wished she was (thought she should be) here for me, but I pushed her away because I wanted to handle things alone (with Brett).

 

I’m an adult–DAMMIT–and I can handle things by myself or with the people I choose to surround myself with, just like I had been doing since she left me when I was 17. Maybe this explanation of my early adulthood is unfair, but emotionally this is how I’ve always felt (...)."

 

Liz, no blog The Liz Army

 

Adoro a série House mas estes últimos episódios têm-me dado cabo da cabeça. O melhor (e único) amigo do House está doente. A ironia (ou não) é que o Wilson, o oncologista, tem cancro. Parece que tem só 5 meses de vida, porque o tratamento de quimio super potente que fez não funcionou.

 

E porque é que isto mexe comigo? Porque o Wilson tem o House, que é um egoísta miserável, mas está lá. Precisam um do outro, e apesar da situação ser trágica, não viram as costas um ao outro. Quando eu pensava que neste ano que passou tinha ultrapassado todas as questões que me faziam sofrer em relação à família e aos amigos que gostariam de cá estar mas que a) eu afastei para bem da minha saúde mental; b) não podem; c) não conseguem; d) têm as suas vidas; e) já deram o bastante para este peditório; eis que afinal não. O Wilson esfrangalhou-me isso na cara.

Continua-me a custar:

 

Que estando fora três semanas, regresso a Paris e não está ninguém à minha espera;

Que continuo a não poder ter um momento de fraqueza, porque não tenho aqui ninguém que (fisicamente) me levante nem ombro amigo para chorar;

Que os sentimentos não se pechincham, e as presenças também não. E isso não é uma questão de orgulho (meu), de incapacidade (dos outros) ou de necessidade (de todos).

 

Queria poder falar da morte, do medo, da solidão livremente.

Queria que quando eu estivesse mesmo a morrer viessem todos assistir comigo ao meu fim, com dignidade, com um sorriso nos lábios.

Queria ter direito a uma despedida como deve de ser, com música bonita e um abracinho de fugida, olhando os olhos de quem me olha e não ver culpa, nem arrependimento, nem sofrimento, nem pena. Só aquela calma trazida pelo amor de aceitar o inevitável e respeitar o curso da vida.

 

Raistepartam o Wilson e o House. Espero que os guionistas da série arranjem maneira de o(s) salvar(em)!

 

publicado por Silvina às 14:52

Antes de mais obrigada por todos os comentários que aqui deixaram e pelas simpáticas palavras a meu respeito, tantos elogios até corei (e lacrimejei um bocadinho, vá...).

A questão aqui não é a falta de comunicação. Não se trata de eu pedir, ou de admitir que preciso de ajuda. Já pedi, e já o disse, é óbvio, toda a gente sabe.

O problema é que a vida não é assim tão simples, sobretudo não é assim tão preto no branco quando se trata de uma doença tão exigente como a minha. A minha doença exige tempo, dedicação, atenção, é um desgaste terrível para quem quer que esteja à minha volta. é uma coisa que consome o quotidiano, que impede as outras pessoas de terem as suas vidas, que exige tudo do outro e deixa muito pouco espaço para o resto. E ninguém, repito, ninguém, é obrigado a isso, por mais meu amigo que seja, ou por mais amor que me tenha.

E se eu no inicio pedia que me acompanhassem para tudo, e tive prontamente quem o fez durante muitoooo tempo (e a quem tenho uma eterna divida de gratidão), agora, mesmo que eu peça, não tenho.

E este facto, que custa a engolir, é certo, também é algo que aceito porque consigo entender que primeiro, toda a gente tem limites, e segundo, que não põe em causa a existência dos afectos. Eles estão là (da minha parte, e dos meus amigos, estou certa).

E para terminar, quando me expresso sobre isto no blog, não reflecte DE TODO sentimentos de abandono, é mais sobre a dificuldade de um quotidiano num pais estrangeiro, com um cancro que não dà um minuto de descanso. E as manhas que tenho tentado arranjar para contornar esta situação lixada, para me sentir mais ligeira, menos dependente, no fundo, mais livre.

Estou convencida que nas alturas mesmo criticas, quando for de novo operada, por ex., há-de aparecer sempre alguém (muitos "alguéns") na hora da visita; ou se tiver a vomitar-me toda da quimio, hei-de ter aqui alguém a estender o balde de vomito.
Silvina a 16 de Maio de 2012 às 19:18



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