[é por estas e por outras que acho a Tailândia um país fantástico.]
[é por estas e por outras que acho a Tailândia um país fantástico.]
Entrevista de Naide Gomes à revista Visão, sobre a sua carreira:
" ... Na pista, mesmo nos treinos, Naide perde o sorriso. E o seu olhar ganha intensidade, quando se concentra nos exercícios de corrida ou tenta apurar o momento decisivo do salto. "Agora, só espero que as lesões me deixem lutar pelo meu sonho, porque vou mesmo lutar por uma medalha nos Jogos Olímpicos."
Poucos dias depois dessa conversa, chegou a desilusão. No sábado, 9, na corrida para mais uma prova de salto em comprimento, o seu pé não resistiu. Anos e anos de esforço voltaram a pagar fatura. Rutura do tendão-de-aquiles - chegou, rápido, o diagnóstico. E depressa se tomaram decisões: operação cirúrgica para resolver clinicamente a lesão e o fim do sonho olímpico, em termos desportivos. Aos 32 anos, Naide Gomes confessou, poucas horas após o infortúnio, estar "de rastos". Mas, logo a seguir, usou a sua página do Facebook, para anunciar que promete "nunca desistir". (...)"
Artigo completo AQUI.
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Não tenho memória, pequena ou grande, do momento em que decidi levantar-me da toalha. Estaria talvez a prestar atenção a qualquer outro pensamento, mas levantei-me da toalha e, de certeza, caminhei até à água. A minha memória começa no momento em que estava com água pelos joelhos.
Ao longo da minha vida, tenho estado em muitas praias, poucas de beleza mais extravagante do que aquela. Natureza a encontrar-se com natureza. De um lado, a natureza-água, mar com a cor certa, a temperatura certa, horizonte lá longe, no limite; do outro lado, a natureza-terra, areia limpa, dunas, sons comparáveis ao silêncio; por cima, a natureza-céu e, já se sabe, céu é céu, justo. Eu e o Milagre éramos as únicas pessoas em toda a praia. As únicas pegadas na areia eram nossas.
Quando me levantei da toalha, devo ter-lhe perguntado se queria vir. Se o fiz, ele deve ter respondido que não. Especulo porque, como disse, a minha memória começa já com água pelos joelhos. Depois, sem dar um passo, ainda a ambientar-me, já tinha a água pela cintura. Depois, sem me mexer, chegava-me à barriga, ao peito, aos ombros e, de repente, não tinha pé e estava a nadar o mais depressa que podia contra a corrente que continuava a levar-me para longe da areia.
Na minha família, faço parte da primeira geração que aprendeu a nadar. Nunca fui grande nadador. Aprendi tardiamente num tanque de rega que me chegava à barriga quando estava cheio e que acabava após duas braçadas. Nunca fui capaz de deitar-me de costas e boiar, ainda não sou. Invariavelmente, as pernas começam a afundar-se e, com elas, o corpo inteiro. Por isso, naquele dia, enquanto nadava contra a corrente, desconfiava das minhas capacidades. Sem estilo, quando me esforçava ao máximo, conseguia não me afastar durante um instante; mas eu não era capaz de aguentar o máximo do meu esforço por muito tempo. O mar tinha decidido que me queria.
Quando deixei de saber o que fazer, comecei a gritar. À distância, o Milagre continuava na sua pausa, impávido, deitado na toalha. A corrente anulava-me o esforço e as ondas anulavam-me os gritos ao lançarem-se sobre a areia. Então, chegou o momento em que aceitei o que me estava a acontecer. Pensei: que inglório. Eu estava a nadar com toda a força, mas esse foi um momento de grande serenidade, em que pensei: que inglório, tanta coisa para isto, tantas preocupações, tantos sacrifícios, tantas ilusões para isto. E senti o quanto era ridículo e vão aquele que eu julgava ser. Afinal, não era tudo o que imaginava. Afinal, era apenas um sopro. E senti uma pena profunda por desaparecer o amor que sentia por aqueles que nunca mais voltaria ver, a minha família, de quem não me tinha despedido e a quem daria um desgosto enorme. Que triste e inglório. Aquela ida à praia, simples e inconsciente, iria definir-me para sempre. Aquele momento podia ter sido evitado de tantas formas mas, ali, já não podia ser evitado, era real. Eu ia morrer.
Eu ia morrer? Perante essa certeza, como nos filmes, já sem pensar, nadei o mais que pude, para lá da exaustão, a ignorar a exaustão e o corpo. Não sei como, mas houve uma trégua na corrente, talvez o mar se tenha comovido com o meu esforço, e consegui avançar. Cheguei à areia, como um náufrago, a cambalear e fiquei deitado de costas durante muito tempo, até conseguir recuperar o fôlego.
Foi há doze anos. Muitas vezes, parece-me que este tempo desde então é um bónus. Se tivesse morrido nesse dia, faltava uma grande quantidade de acontecimentos enormes na minha vida. Não vou enumerá-los. Agora, aqui, seriam como montanhas e basta-me a sua sombra para me embargar a voz.
Conheço pessoas que morreram. Ao contrário de mim, morreram mesmo. Todos os dias passa tempo que não é testemunhado por elas. Os seus olhares ficaram parados numa data que se afasta cada vez mais. Nós, que conhecemos essa pessoas, que partilhámos um tempo que continha a sua presença, estamos aqui e podemos avaliar o tamanho da sua falta. Assim, da mesma maneira, devíamos ser capazes de perceber toda a dimensão disto: o nosso nome ainda nos pertence, temos planos banais para amanhã.
Quando cheguei à toalha, ressuscitado ou renascido, expliquei ao Milagre o que acontecera. Ele continuou a olhar para mim com a mesma expressão e, depois de algumas frases, mudou de assunto. |
Gosto de todas as fotos. Espero que estas pessoas estejam todas bem e em remissão.
(Mas para a próxima faço-me de convidada para dar a cara pelos JOVENS ADULTOS também vitimas deste tipo de cancro.)
Dia 30 de Maio o Grupo de Estudos do Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP) vai andar pelas ruas de Lisboa, Coimbra e Porto, a distribuir informação sobre o Cancro de Cabeça e Pescoço. A iniciativa terá lugar no âmbito do Dia Mundial Sem Tabaco, que se assinala dia 31 de Maio, e tem o apoio da Sociedade Portuguesa de Oncologia e da Ordem dos Médicos Dentistas, entre outras entidades.
«No dia 30 de Maio, das 08h00 às 10h00 e das 17h00 às 19h00, médicos e doentes vão distribuir cartões informativos sobre o Cancro de Cabeça e Pescoço, bem como um laço em formato PIN que representa internacionalmente a doença. Contamos com o apoio da Associação Portuguesa dos Limitados da Voz que nos vai ajudar a sensibilizar as pessoas para este problema», explica Jorge Rosa Santos, Presidente do GECCP.
Esta campanha de rua decorre em Lisboa, Coimbra e Porto nos seguintes locais:
Lisboa:
- Metro do Cais do Sodré
- Metro do Marquês de Pombal
- Metro do Terreiro do Paço
- Metro da Praça de Espanha
Coimbra:
- Largo da Portagem
- Rua Ferreira Borges
- Rua Visconde da Luz
- Praça 8 de Maio
Porto:
- Casa da Música (imediações)
- Trindade
- Campanhã
- Senhora da Hora
Eu tinha 27 anos. Nunca fumei. Não bebia. Não tinha sintomas nenhuns. Só um altinho no pescoço:
O cancro de cabeça e pescoço mata 3 portugueses por dia. Todos os anos registam-se mais de 1.800 novos casos em Portugal, sendo 85% das vítimas fumadores ou ex-fumadores.
Um dos objectivos do Grupo de Estudos passa por promover comportamentos saudáveis e a prevenção de doenças como o Cancro de Cabeça e Pescoço que está intimamente ligada ao consumo de álcool e tabaco, bem como a uma fraca higiene oral.
Dores de garganta, dificuldade em engolir, rouquidão, placas brancas ou vermelhas na boca, podem ser o primeiro sinal de alerta.
Mais informações: Grupo de Estudos do Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP)
A importância de um diagnóstico feito a tempo:
O cancro de pescoço e cabeça mata três portugueses por dia e 68 mil europeus todos os anos.
Em Portugal é uma das patologias mais graves, nomeadamente pelo pelo diagnóstico tardio.
Profissionais da saúde de todo o país lançam agora uma das maiores campanhas de prevenção em parceria com os centros de saúde.
Mais informações: Grupo de Estudos do Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP)
"le cancer échappe à tout le monde, aux scientifiques, aux médecins, mais il n’échappe pas au patient. Ce qui est important, c’est que les gens prennent leur responsabilité. C’est à eux, cette maladie, ce n’est pas aux médecins. Il y a des médecins qui sont totalement inconscients, je les appelle les «médecins assis». Ils sont si loin de vous, ils sont assis sur leurs connaissances, ils ont tellement peur que l’on apporte quelque chose de nouveau qui les déstabiliserait…" (Bernard Giraudeau, sublinhados meus)
«Le cancer est arrivé, je n’étais pas étonné» - Libération
O cancro é meu. Não é dos meus médicos, não é do meu pai, nem da minha mãe, não é das pessoas que me rodeiam, amigos e conhecidos. O cancro é meu, instalou-se no meu corpo, e não me larga há três anos.
No post anterior tentei explicar o que é viver à sombra da morte, presa num instante. Não é qualquer pessoa que tem cancro que percebe isto. Eu própria vivi com cancro durante um ano e meio antes de perceber isto, antes de sentir isto. No principio não percebia. Continuei sem perceber quando tive a primeira recidiva. E a segunda. Talvez estivesse meia burra ou demasiado optimista. Não pensava que aos 28 anos se pudesse morrer de cancro da glândula salivar. Que EU pudesse morrer assim. Depois veio outra recidiva e uma metástase no pulmão.
Aí senti tudo, o abanão. A mão da morte em cima da minha. Estávamos em Setembro de 2011 e eu não sabia se ia chegar ao Natal. Cheguei. Tenho vivido assim, cada dia a viver um dia a mais em relação ao Natal. Cada dia a conquistar os prognósticos. Cada dia a desafiar estatísticas. Entretanto o Matt morreu, aos 26, com cancro da glândula salivar. O Adam também morreu, aos 47, com cancro da glândula salivar. Na semana passada soube que esta quinta recidiva veio com bónus: agora tenho metástases em 3 sítios: pescoço, mediastino e rim. Tenho andado com a cabeça à roda e ao mesmo tempo uma calma que às vezes me assusta. Sinceramente, não sei o que mais posso fazer. Já não tenho mais cartas na manga. Penso no Lambard, sei que vamos mais uma vez ferozmente à luta. Desta vez vai ser sistémica. Vêm ai a quimioterapia. Aquela que me disseram ser "paliativa" e não "curativa". O cancro é meu, mas nós chegámos a este ponto.
Ce cancer avait, pour vous, un sens, comme un signal ?
Il a toujours un sens. C’est mon avis. Pour un homme adulte, sur le deuxième versant de sa vie, un cancer peut être un message, un questionnement. C’est souvent ce qui se passe.
Et la rechute a un sens ?
On fait l’erreur de croire que les choses sont miraculeuses. C’est en nous, ce cancer. S’il n’a pas été, je dirais… compris à la source, rien ne change vraiment. Car ce n’est pas qu’un problème de molécules, celles-ci vont nous faire guérir un temps, vous allez survivre, mais le reste ? C’est un décalage, un terrain défavorable. D’où cela vient-il ? Cela peut être plein de choses. C’est pour cela que je dis qu’il y a une nécessité pour le patient de se prendre en charge, de faire connaissance avec lui-même. Est-ce que l’on veut être aveuglé et rester sous la tutelle des médecins ? Ou est-ce que l’on veut travailler avec eux, avec son ressenti, ses sentiments, ses peurs ? (Bernard Giraudeau, sublinhados meus)
Na véspera da reunião da equipa médica que ia decidir o meu tratamento enviei um mail ao Lambard com fotos da minha viagem e um agradecimento entre parêntesis. Disse-lhe que sabia que os outros médicos não eram como ele; que os outros tinham medo de se envolver demasiado com os pacientes, e que esse medo, não deixando de ser legitimo, é mesmo muito estúpido. Porque temos que aproveitar as oportunidades de interagir com as pessoas enquanto elas estão por cá. Agradeci-lhe por ele estar sempre comigo. O cancro é meu, mas não o combato sozinha.
E nesta fase, começo mesmo a encarar as coisas menos belicamente e mais no sentido de uma oportunidade para uma profunda interrogação existencial. Para aprofundar o conhecimento sobre mim própria, sobre a vida, sobre o mundo em geral e o meu em particular. Deslumbro-me com o facto de o G. ter cá vindo a casa ajudar-me a pôr cortinas nas janelas (depois de 1 ano e meio de vida exposta aos vizinhos), de termos jantado sushi, de as cortinas serem brancas e simples e darem um ar de harém com classe à casa. Delicio-me com o facto de poder ir dormir numa cama feita de lavado e poder embrenhar-me no livro da Ana C. até me dar o sono. Até me agrada o facto de chorar quando leio entrevistas como essa do Bernard Giraudeau no Libération. Eu percebo-o. Eu percebo-o até ao osso. Eu, uma miuda de 29 anos quase 30, percebo-o a ele, um conhecido actor Francês com 62 anos. Estamos tão próximos. Estamos todos tão próximos. Sinto como se ele me falasse ao ouvido. E como se eu tivesse sensores emocionais em cada poro do meu corpo. Estou desperta como já não estava há anos. E mesmo estando a ser invadida por metástases, estou estranhamente serena. E isto não é resignação, nem baixar os braços. É um aceitar que a minha situação, neste momento preciso, é esta. É acreditar que há esperança, sempre, até ao ultimo suspiro. Falta-me conhecer os meus limites.
Et accepter d’être malade ?
Oui, si vous ne l’acceptez pas, c’est emmerdant. Mais en même temps, c’est l’histoire de chacun, certains refusent et ont guéri.
(...)
Est-ce que vous vous attendiez à un parcours aussi dur ?
Je le savais, mais aussi dur… Le plus dur est de ne pas savoir comment arriver à stabiliser cette maladie sans que cela ne devienne invivable.
Vous avez mis des limites ?
Oui, j’en ai mis. Je ne veux plus me faire opérer. J’ai déjà été tellement opéré que cela bousille. Pour les chimios, moi, cela fait deux ans. C’est une période difficile.
(Bernard Giraudeau, sublinhados meus)
«Le cancer est arrivé, je n’étais pas étonné» - Libération
Bernard Giraudeau morreu no dia 17 de Julho de 2010, de um cabrão de um cancro no rim descoberto em 2000.
via POP
No próximo dia 16 de Maio, oito Hospitais organizam o “Dia Aberto”. Das 09:00 às 14:00, especialistas fazem um diagnóstico gratuito para despiste do cancro de cabeça e pescoço, avança comunicado de imprensa.
A iniciativa é promovida pelo Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP) e o presidente alerta: “o cancro da cabeça e pescoço mata três portugueses por dia, sendo 85% das vítimas fumadores ou ex-fumadores. Todos os anos detectamos cerca de 1.800 novos casos”.
“Todas as instituições estarão abertas, no mesmo dia, para assistir os doentes referenciados dos centros de saúde e médicos dentistas”, explica Jorge Rosa Santos.
“O nosso compromisso será dar seguimento, em tempo útil, aos doentes em que sejam identificadas lesões suspeitas. Queremos ajudar a tratar uma doença que, se detectada a tempo, tem possibilidade de cura”, diz Jorge Rosa Santos.
Centros que vão participar no “Dia Aberto”:
RIP Adam Yauch, com um (cabrão de um) cancro da glândula salivar. Aos 47 anos. Diagnosticado em 2009 (como eu).
Há uns anos estive neste templo. Agora parece que foi numa outra vida...
Artigo do Público sobre a morte de Adam Yauch.
O Adam publicou um vídeo no Youtube a explicar a sua doença e os tratamentos que ia fazer. Gosto que se tratem as coisas pelos nomes, e que se diga "cancro da glândula salivar" em vez de "vítima de doença prolongada". Já está na altura de dar alguma visibilidade a estes cancros raros (que afinal não são tão raros como isso), e que continuam a matar.
- saltem para o min 0:28 até ao 3:42.