As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Quinta-feira, 28 de Junho de 2012

Lambard: "Não salte muito, que o osso está em risco de fractura. O melhor é andar de muletas."

Eu: "Errr... Não salto muito?! Há 5 dias atrás estive 3h a saltar num concerto punk... e agora tenho que andar de muletas?!"

 

 

 

 

 

" I live to watch you fail,
I live to watch you fail, I live to watch you fail,
I am the wind in your sail


I wish you the worst dear, to feel the greatest pain
'cause i'm right here,
to retrieve all you stole every tear,
and everything you own i wish you hours of madness,
years of dysfunction, the deepest embitterment "

 

 


Terça-feira, 26 de Junho de 2012

publicado por Silvina às 14:52

Sexta-feira, 22 de Junho de 2012

Se de inicio tinha uma enorme dificuldade em associar a palavra morte à palavra cancro, agora já me deixei disso. Fervo por dentro quando leio que alguém morreu de doença prolongada. Fico fora de mim quando se impedem doentes de falar da morte, como se falar disso a trouxesse mais depressa, como se fosse um mau olhado, um chega-essa-boca-pra-lá senão ela vem aí.

 

Há cancro e há morte. Há gente que morre de cancro, e que infelizmente vai ter que viver essa experiência -morrer de cancro. 

 

Falar do medo da morte não arranca a esperança, nem a fé num final feliz. Exprimir o medo da morte é vital, e isso deveria poder ser feito sem papas na língua e sem gente a correr para pôr a mordaça ("ai, não digas isso, não fales assim").

 

Só tem medo de morrer quem ama a vida. E se ama a vida, vai querer viver. Vai lutar, vai fazer os possíveis para viver com o cancro, almejando viver sem ele um dia. O cancro é só uma doença. E hoje acredito mesmo que falar dele, e de tudo o que ele abarca, é essencial. E isso inclui exprimir emoções mais difíceis, como por ex: o medo dos tratamentos, da queda de cabelo, da solidão, das dores, das cirurgias, do futuro em cheque, e o medo da morte.

 

é preciso falar do cancro enquanto experiência que faz parte da vida. Que a integra, que a constitui durante um determinado tempo e que vai afectar toda a gente à nossa volta. é avassalador, mas também pode ser um momento propicio a descobertas, ao intensificar das sensações, ao aproveitar melhor a vida e dar o devido valor às coisas que nos importam na vida.

 

Não há dia em que não pense na morte, no medo de morrer de cancro. Mas também não há dia em que não pense "hoje estou viva."

publicado por Silvina às 19:37

Quarta-feira, 23 de Maio de 2012

 

 

 

 

 

 

Gosto de todas as fotos. Espero que estas pessoas estejam todas bem e em remissão.

 

(Mas para a próxima faço-me de convidada para dar a cara pelos JOVENS ADULTOS também vitimas deste tipo de cancro.)

publicado por Silvina às 04:14


Dia 30 de Maio o Grupo de Estudos do Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP) vai andar pelas ruas de Lisboa, Coimbra e Porto, a distribuir informação sobre o Cancro de Cabeça e Pescoço. A iniciativa terá lugar no âmbito do Dia Mundial Sem Tabaco, que se assinala dia 31 de Maio, e tem o apoio da Sociedade Portuguesa de Oncologia e da Ordem dos Médicos Dentistas, entre outras entidades.

«No dia 30 de Maio, das 08h00 às 10h00 e das 17h00 às 19h00, médicos e doentes vão distribuir cartões informativos sobre o Cancro de Cabeça e Pescoço, bem como um laço em formato PIN que representa internacionalmente a doença. Contamos com o apoio da Associação Portuguesa dos Limitados da Voz que nos vai ajudar a sensibilizar as pessoas para este problema», explica Jorge Rosa Santos, Presidente do GECCP.

 



Esta campanha de rua decorre em Lisboa, Coimbra e Porto nos seguintes locais:

Lisboa:
- Metro do Cais do Sodré
- Metro do Marquês de Pombal
- Metro do Terreiro do Paço
- Metro da Praça de Espanha

Coimbra:
- Largo da Portagem
- Rua Ferreira Borges
- Rua Visconde da Luz
- Praça 8 de Maio

Porto:
- Casa da Música (imediações)
- Trindade
- Campanhã
- Senhora da Hora

 

Noticia DAQUI.

publicado por Silvina às 04:00


Eu tinha 27 anos. Nunca fumei. Não bebia. Não tinha sintomas nenhuns. Só um altinho no pescoço:


 

 

 

O cancro de cabeça e pescoço mata 3 portugueses por dia. Todos os anos registam-se mais de 1.800 novos casos em Portugal, sendo 85% das vítimas fumadores ou ex-fumadores.

Um dos objectivos do Grupo de Estudos passa por promover comportamentos saudáveis e a prevenção de doenças como o Cancro de Cabeça e Pescoço que está intimamente ligada ao consumo de álcool e tabaco, bem como a uma fraca higiene oral.

 

Dores de garganta, dificuldade em engolir, rouquidão, placas brancas ou vermelhas na boca, podem ser o primeiro sinal de alerta.

 

Mais informações: Grupo de Estudos do Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP)

publicado por Silvina às 03:53


A importância de um diagnóstico feito a tempo:

 

 

 

 

O cancro de pescoço e cabeça mata três portugueses por dia e 68 mil europeus todos os anos.

 

Em Portugal é uma das patologias mais graves, nomeadamente pelo pelo diagnóstico tardio.

 

Profissionais da saúde de todo o país lançam agora uma das maiores campanhas de prevenção em parceria com os centros de saúde.

 

Mais informações: Grupo de Estudos do Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP)

 


publicado por Silvina às 03:17

Domingo, 20 de Maio de 2012

Já várias vezes me disseram que ter cancro e medo da morte era normal. Que ter a morte em face como eu tenho era normal; afinal, todos morremos um dia. E não sabemos quando, amanhã podemos andar na rua e ser atropelados por um autocarro. Ou cair de um penhasco no Guincho enquanto tiramos fotografias.

 

Mas imaginem:

 

- O chiar dos travões, o vosso coração acelerado, o medo, o vosso espaço vital a ser invadido por um monstro com motor, a vida a passar-vos diante dos olhos, a inevitabilidade do fim, o tomar de consciência inevitável que ocorre em centésimos de segundo, "é agora, vou morrer" e mesmo antes de morrer ficam parados nesse instante, em modo pause;

 

- O chão a fugir debaixo dos pés, o vento que bate mais forte na cara, o estender das mãos inútil porque não há nada onde nos podemos agarrar, o medo, a queda a tomar forma, a chegada do vazio e, perto do fim, a tomada de consciência inevitável que ocorre em centésimos de segundo, "é agora, vou morrer" e mesmo antes de morrer ficam parados nesse instante, em modo pause;

 

Imaginem-vos suspensos nesse momento, à beira dela, à beira da extinção. De todo o vosso ser, os vossos gostos, os vossos amores. O fim das palavras que ainda tinham para dizer, das ideias que ainda tinham para pensar, o desaparecimento da vossa ordem do mundo, da vossa singularidade, das vossas memórias. Imaginam quem fica, desamparado, perdido com a vossa perda. Imaginem-vos suspensos nesse instante. Em modo pause.

 

é assim que eu vivo, TODOS OS DIAS da minha vida. à beira desse fim. Por isso não me banalizem a morte por cancro, comparando-a com ser atropelado por um autocarro quando se atravessa a rua, comparando-a com todas essas coisas que podem acontecer (mas não estão ainda a acontecer), sejam elas acidente de carro, avião, de mota, afogamento numa lagoa ou numa praia sem vigilância, ou ingestão de cocktail acidental de drogas legais. São coisas diferentes, que exigem entendimentos e sensibilidades diferentes.

 

 

 

Cliché, but very true.

publicado por Silvina às 01:53

Sexta-feira, 23 de Março de 2012

Estou doente há três anos. Já passei por muito. Ainda me sinto confusa com a minha situação, com o corpo que me restou, com a identidade enquanto doente oncológica, com as mazelas psicológicas, com o crescimento (interior) forçado.

 

Ainda esta semana a minha psicóloga me disse que tinha de aprender a viver com uma doença crónica e eu fiquei a olhar para ela com ar ofendido, como se ela me estivesse a subestimar, ou pior, a condenar-me a viver doente o resto da vida. Mas é obvio que ela tem razão.

 

Faz-me espécie a frase "tu vais vencer" ou a variante "tu vais vencer esse bicho". Porque eu não vou vencer nem vou perder. O que eu faço é viver. Ainda melhor no gerúndio: o que eu vou fazendo é ir vivendo...

 

O desafio não é saber se o cancro ainda está cá, ou se já não está cá; Ele pode voltar a qualquer instante, e se por momentos nos sabe bem esquecê-lo, quando lemos noticias destas, rapidamente nos lembramos.

 

A tentação de viver saudável é demasiado grande, demasiado boa, para nos levar a ignorar sinais (como fiz no Verão passado) porque queremos à força continuar a viver na ilusão de ter saúde. Se em Maio entrar em "remissão" não significa que "venci", nem que estou a ganhar. Significa que continua a luta contra um gigante adormecido.

 

O desafio é, então, aceitar. Viver com ele. Domá-lo, e não deixar que ele nos leve a melhor. Que nos tire o sorriso de viver mais um dia que passa. Viver com uma doença crónica é aprender a aceitar as circunstâncias sem estar forçosamente a desistir; é receber o novo corpo como uma dádiva, porque este corpo ainda mexe, ainda respira, ainda me permite fazer coisas que eu gosto -apesar de acordar todos os dias com dor. é reapropriar-me de quem sou e para onde vou. é não deixar de ter sonhos apesar de eles nos poderem ser roubados a qualquer momento. é aceitar a perda de controlo, e viver a vida ao sabor da corrente, como uma pena, leve, levezinha que é levada pelo vento.

 

[frase na minha parede, em francês e não em checo:

"Avoir l'espoir, ce n'est pas croire que les choses vont se produire bien, c'est penser que les choses auront un sens." Vaclav Havel

Que traduzido à bruta para português dá mais ou menos isto: "Ter esperança não é acreditar que as coisas vão necessariamente correr bem, mas sim pensar que as coisas farão sentido"]

 

 

Se é a vida que eu queria viver? Não. Se preferia mil vezes não ter cancro? Claro. Se gostava que os meus êxitos profissionais dependessem só do meu esforço, capacidade de trabalho  e de eu dar o meu melhor? Sem dúvida.

 

O (meu) contexto mudou para sempre. Daqui a uns 3 meses faço 30 anos mas o tempo já não se mede em meses nem anos. Já tenho 30 (e tal) anos há muito tempo. A data vai ser só motivo de festa pela festa. E quando chegar aos 60 faço outra.


Sábado, 17 de Março de 2012

imagem DAQUI.

 

 

Antes da minha 2a recidiva tinha um comportamento muito zen em relação ao tabaco. Tolerava, não me importava que fumassem ao pé de mim desde que não me fumassem para cima, e até tinha vontade de dar uns bafinhos num cigarro de enrolar de vez em quando.

Depois comecei lentamente a desgostar do cheiro, do objecto, da atitude.

Agora acho que quem fuma é parvo.

 

Tenho um amigo que fuma. Muito (1 a 2 maços por dia). Tem 28 anos. Eu ontem perdi as boas maneiras e toda a tolerância e disse-lhe: "sabes que vais ter cancro não sabes? Tens ideia do que dói ter cancro? Vais-te arrepender de cada um dos cigarros que meteste à boca."

Não sei o que é que me deu. Não costumo ser assim tão moralista, muito menos meter-me desta maneira na vida e nas opções de cada um. Mas acho que fiquei enojada pela inconsciência dele, pela atitude de preferir fechar os olhos e fingir que o cancro não existe e que não é com ele (quando eu estava sentada à sua frente, eu, com um cancro ORL em que 90% dos casos são causados pelo tabaco e álcool).

 

Ele respondeu que sim, que sabe que provavelmente terá um cancro por causa do tabaco, mas que se for lá para os 60 anos ele não se importa. Eu respondi: "não vais ter aos 60, vais ter antes." E que tendo cancro aos 20, aos 40 ou aos 60, a verdade é que é uma experiência que CUSTA MUITO, que DÓI, que MATA, que ninguém nunca deveria encolher os ombros e pensar "ékkk, não é comigo."

 

Estou farta de atitudes passivas em relação ao tabaco. Eu sei que é bonito respeitar a liberdade individual de cada um, mas porra, não sou obrigada a gostar de ver um amigo a matar-se com bafos à minha frente e ficar de boca calada.

 

Pedi-lhe desculpa por estar com um discurso assim tão agressivo, mas foi mais forte do que eu.



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