Primeiro dia de radio. Sala de espera quase deserta, excepto um velhote que me olha com ar inquiridor e uma senhora de meia idade numa cadeira de rodas e olhar vazio. Lê uma revista. Eu penso no Dr Lambard, quando deveria estar a meditar sobre a minha condição de doente radio-oncológica.
(entro na sala de radioterapia em bikini, deito-me mas não estou na praia, refilo porque tenho frio)
E quando a maquina começa a girar à minha volta, as terríveis interrogações invadem-me a cabeça, mais uma vez. "Porquê eu?" "Será que isto vai funcionar?" "E se não funcionar?" "Devia estar a sentir os raios, devia estar a visualizá-los a atravessarem o meu corpo e a queimarem as células cancerígenas..." "Devia, mas não estou." "Merda."
Saí da sala de tratamentos com vontade de chorar. Começou tudo outra vez.
(puxei o fecho do casaco até acima e fui-me embora, a pé para casa, debaixo de uma chuva miudinha)