Ainda no hospital, uma noite cheia de pesadelos, sonhos, confusão, insónias, reviravoltas e mistura entre sonhos e realidade. Tudo intercalado com o ressonar da velhota com quem partilhava o quarto, e que de vez em quando também se peidava (lovely!). De manhã tinha a sensação de ter levado com uma marreta nos cornos a noite toda. Oh, crap.
No meio desta noite tão terrivelmente peculiar, tive um pensamento me fez sorrir por momentos (foi mais que sorrir, senti uma alegria instantânea e efémera): "os gânglios já eram... neste momento, neste preciso instante, posso estar em remissão!" Claro que eu sei que outras células cancerígenas se devem andar a passear aqui pelo corpinho, mas este momento soube-me pela vida, porque pura e simplesmente me trouxe esperança. A remissão é uma possibilidade. Rara, improvável, como um momento de alegria no meio de uma noite de pesadelos, mas nem por isso menos real. E enquanto eu não me esquecer disto, tout va bien.
Dia 21 tive alta. Recorde pessoal e absoluto, nunca tive uma estadia no hospital tão curta e que tivesse corrido tão bem. Até o dreno ajudou à festa, não deu quase liquido nenhum e não doeu horrores quando mo retiraram. Agradeço a todos mais uma vez. Senti mesmo todas as vossas boas energias comigo, estava calma, como não me lembro de ter estado antes de uma intervenção.
Fisicamente, correu tudo bem. Psicologicamente nem por isso. Tive noticias muito difíceis de digerir, uma grande desilusão, momentos desesperados por não saber o que se estava a passar com a minha pessoa. A minha pessoa é a minha avó. Que está muito doente no hospital. Eu esforcei-me para sair do hospital o mais rapidamente possível, esforcei-me para comer bem, para dormir bem, para descansar. Mal vejo a hora de me meter num avião e ir ter com ela. De lhe falar baixinho ao ouvido, de lhe dizer que ela é a pessoa que mais amo neste mundo, a pessoa que SEMPRE me apoiou incondicionalmente toda a minha vida, que esteve sempre lá, que sempre me aceitou como eu era sem nunca me tentar mudar nem moldar. Espero ainda ir a tempo de a ver, de lhe poder dizer isto tudo, mesmo que ela já não me oiça como antes. Vou a correr para casa, que para mim é estar ao lado dela.