Afinal não fui operada.
Fui vista pelo anestesista 5 dias antes de ser hospitalizada, e por um otorrino 1 dia antes de ser hospitalizada. Em ambas as consultas foi informada de pormenores difíceis de digerir e de sequelas bastante prováveis da operação: traqueostomia, entubação pelo nariz, possibilidade de ter as cordas vocais afectadas (logo, não conseguir falar), etc, etc. No dia da hospitalização vi a minha psicóloga e o Dr Lambard de manhã. Percebi que ele também estava hesitante. No meu intimo sabia que esta não era a decisão certa. Uma operação super complicada, pesada, que implicava um longo período de convalescença não era solução; porque o que me interessa agora é ter qualidade de vida, é ter uma vida.
Já no hospital o cirurgião veio falar comigo duas vezes. Eram 19h e ainda estava indecisa se ia ou não à faca no dia seguinte. Às 21h estava decidida. Cansada, com uma bruta enxaqueca, e depois de algumas lágrimas, só queria ir para casa. Não ia obrigar o meu corpo a passar por isto, quando todas as células do meu corpo diziam NÃO! E foi não que disse ao cirurgião, que foi muito compreensivo e me disse que eles (médicos) iam discutir mais uma vez sobre o meu caso, analisar bem todas as opções. Passadas 3h telefona-me e relata-me o novo plano...
Foi a primeira vez que recusei assim, à bruta e em cima da hora, um tratamento que segundo muita gente é uma maravilha: uma operação! O santo graal de um doente com cancro! Porque o facto de poder ser operada significa que ainda há alguma coisa a fazer (que não sou um caso perdido...). Mas não é bem assim. Quero deixar aqui o testemunho que é possível recusar uma cirurgia pesadíssima, se acharmos que não é o melhor para nós. Claro que foi agonizante ter que ser eu (e não os médicos) a tomar esta decisão. Mas o corpo é meu, o cancro é meu, a vida é minha. E nestes últimos dois anos aprendi a respeitar os meus instintos e feelings, e a escutar o meu corpo. E quando ele me diz NÃO, é não.
Importa também analisar o porquê desse não; tive pessoas a dizerem-me que é medo. Lamento informar, mas medo é outra coisa. Eu nunca tive medo de ser operada quando estava perfeitamente convencida que era o melhor para mim e que tinha que ser feito. Ou melhor, tive medo, claro, das sequelas, efeitos secundários, etc., mas não da operação em si. Uma pessoa próxima disse-me que me estava a deixar influenciar pela postura do meu médico Lambard, que hesitava quanto a esta operação desde o inicio. Talvez... Mas nunca fui pessoa de me deixar influenciar ao ponto de basear as minhas decisões nessas influências.
Quando uma solução clínica não nos convém, temos direito a ir procurar outra coisa. E eu fui.
Para a semana vou ser operada. E agora estou mesmo convencida. E vou mesmo à faca. Vamos retirar o nódulo do pulmão. Depois terei ainda que fazer mais radioterapia para atacar um gânglio linfático que apareceu no peito. Foi a surpresa do final de Outubro! Cabrões dos gânglios, que continuam a aparecer por todo o lado... Portanto, lá para Dezembro, mais episódios de radio me esperam.
Queria deixar aqui um agradecimento especial para todos os que pensaram em mim dia 9 e que me enviaram good vibes. Acho que essas boas energias todas contribuíram para que eu tivesse tomado a decisão certa... Por isso obrigada! E renovem os pensamentos positivos para a minha próxima cirurgia, dia 16 de Novembro de 2011 :)