As rádios emitem em várias frequências. Estes episódios, contudo, situam-se numa frequência diferente, não uma de rádio, mas de radio. Como em Radioterapia. Episódios de um tratamento oncológico (à suivre)
Domingo, 28 de Outubro de 2012

Acupuntura alivia efeito colateral causado pela radioterapia

Tratamento reduz sensação de boca seca, que aparece devido à ação da radiação sobre as glândulas salivares

 

Cientistas do Reino Unido descobriram que a acupuntura é capaz de aliviar um efeito colateral muito comum causado pela radioterapia para câncer de cabeça e pescoço.

A pesquisa revela que o tratamento com agulhas reduz a sensação de boca seca, ou xerostomia, que aparece devido ao efeito da radiação sobre as glândulas salivares.

Cerca de meio milhão de pessoas em todo o mundo desenvolvem câncer de cabeça e pescoço a cada ano e, no momento, existem poucos tratamentos eficazes para a boca seca.

A xerostomia afeta a qualidade dos de vida dos pacientes, interferindo com gosto, mastigação, fala e sono. Soluções de curto prazo, tais como antissépticos bucais, géis e cremes dentais fornecem alívio, enquanto o tratamento com uma droga chamada pilocarpina tem seus próprios efeitos colaterais indesejados.

Médicos de sete centros de câncer no Reino Unido recrutaram 145 pacientes que sofrem de xerostomia induzida por radiação para um estudo que comparou a acupuntura com a educação sobre saúde bucal.

Os pacientes foram separados para receber sessões de acupuntura por 20 minutos a cada semana, durante oito semanas, ou para receber duas sessões de educação sobre higiene oral de uma hora, com um mês de intervalo. Quatro semanas após o final dos tratamentos, os pacientes foram trocados para receber a outra abordagem.

Os sintomas da xerostomia foram medidos objetivamente por meio de tiras de papel, chamados de tiras de Schirmer, que medem a quantidade de saliva na boca. Os pacientes também responderam a questionários que avaliaram o nível de secura da boca que els notaram.

Embora os pesquisadores tenham descoberto que não houve mudanças significativas na produção de saliva, os pacientes que receberam nove semanas de acupuntura foram duas vezes mais propensos a relatar melhora na boca seca do que os pacientes que receberam cuidados oral. Sintomas individuais também foram significativamente melhores no grupo que recebeu a acupuntura.

"O tempo teve um importante efeito sobre os sintomas-chave, com pacientes que receberam acupuntura mostrando uma resposta rápida, que se manteve durante várias semanas", afirma um dos autores do estudo Richard Simcock, do Sussex Cancer Centre.

Segundo os pesquisadores, mais estudos são necessários para refinar a técnica de acupuntura e descobrir como seu efeito dura muito tempo e se sessões de reforço podem ser necessárias. Mas eles acreditam que o tratamento poderia ser facilmente incorporado ao cuidado de pacientes com xerostomia.

 

Fonte: Isaude.net

 


Quinta-feira, 25 de Outubro de 2012

Há coisas que nunca se esquecem, que ficam gravadas na nossa memoria e no nosso corpo como se fosse ontem. Passei mal com acne durante a adolescência. Tive dias que não sai para a rua para ninguém me ter que olhar para mim, dias em que só me apetecia enfiar um saco de papel na cabeça. A minha mãe, apesar de me ter levado a tudo o que eram dermatologistas e ter gasto uma pequena fortuna em cremes para o meu rosto, também me disse uma vez que eu tinha pele de sapo. Hoje essa frase ecoa na minha cabeça, cada vez que me olho ao espelho. "Tens pele de sapo." E dói como quando tinha 15 anos, e hoje não sai de casa como quando tinha 15 anos, e ainda não percebi bem como uma frase dita uma vez fica connosco durante 15 anos. Mas fica. A nossa memoria é selectiva, e a minha, não sei porquê, nunca se esqueceu disto.

 

 

Mudei de protocolo de quimio. Agora estou a testar o cocktail cetuximab+campto+5FU. Uma pequena bomba. Que de um dia para o outro me deixou a pele neste estado:

 

 

E isto depois de 3 dias a antibiótico oral e mais um produto tópico super potente para aplicar 2x por dia. Enquanto isto não acalmar nem sequer posso pôr base para disfarçar os pontos brancos. Se há coisa que me enerva é olhar-me ao espelho e sentir-me um pequeno monstro. Hesitei antes de pôr aqui uma foto, e até ponderei sobre se havia de escrever este post. Mas é importante que merdas destas sejam levadas a sério. Os efeitos secundários da quimio, sejam eles náuseas, vómitos, diarreias, aftas, borbulhas, queda de cabelo, são para serem levados a sério. E admitir que me afecta mais psicologicamente ter a cara neste estado do que passar uma semana com náuseas faz parte do processo. Porque isto acorda o meu passado, e chama-me traumas que tinha arrumado na gaveta. E essas merdas, para mim, são mais complicadas de lidar do que náuseas ou mesmo a perda de cabelo. Convivo melhor com a minha careca, que exibo sem qualquer embaraço nem vergonha, do que com esta borbulhagem que não tem fim à vista e que impede que me reconheça quando me olho ao espelho.

 


Sexta-feira, 16 de Março de 2012

Estou louca para me enfiar numa sala e experimentar isto:

 

 

Descobri a escalada quando era pequena, entretanto ganhei medo das alturas e os kilos a mais dissuadiram-me de ideias malucas que envolvessem cordas a apertar-me as coxas à vista de todos. Agora que já não tenho esse problema, tenho outros: a perda de massa muscular e sobretudo, sobretudo, os braços, ombros e pescoço completamente atravancados impedem-me de ir experimentar isto (por ex., tenho dores horríveis só para me pentear e secar o cabelo). Mas a sério, que me sinto seriamente tentada, lá isso sinto...

 

 

[nota mental: nunca mais na vida adiar planos e vontades que estejam ao meu alcance, mesmo que pareçam um bocado doidos, porque depois pode ser tarde demais.]


Terça-feira, 03 de Janeiro de 2012

Sinto-me um cyborg. Entre a placa de metal que tenho na boca, menos um osso da perna e mais um cateter e respectiva caixinha de plástico implantados debaixo da pele, sinto-me meia pessoa, meia máquina. Sou um Robocop do cancro.

 

 


Quarta-feira, 28 de Dezembro de 2011

Tive um bom Natal. Não foi o que eu queria, mas foi o possível. E o possível já foi muito bom.

 

Continuo em período de cancer blues, fartinha dos efeitos secundários desta quarta radio, que by the way, já acabou! Agora arroto que nem um camionista consagrado, cada vez que engulo parece que tenho uma pedra atravessada na garganta, e de vez em quando começo numa tosse que não tem explicação. A parte boa é que continuo a ir à fisioterapia, meia hora todos os dias. Faço exercícios de respiração por causa do pulmão e exercícios de mobilização do pescoço e das costas, porque tenho uma contractura muscular desde há um ano que não passa. Tive que pedir ao Lambard uma credencial para poder continuar a ir à fisioterapia. "Todos os dias?!", pergunta-me ele. "Ele massaja-me as costas...", respondi eu. Ele riu-se e passou-me o papel para mais um mês de mimos quotidianos. E como eu sou uma gaja sortuda, claro que a minha fisioterapeuta é uma gaja super porreira, e que quando ela não está, é o seu colega giraço que me massaja este costado...

 

E agora um momento musical que me faz lembrar o Inverno brasileiro, e que me faz sorrir em dias frios como o de hoje:

 


Sexta-feira, 23 de Dezembro de 2011

À medida que os efeitos da radio se fazem sentir, desanimo um pouco mais. A radiação irrita-me o esófago, o que provoca dores e dificuldades a engolir e também refluxo acompanhado de vontade de vomitar. Eu só queria conseguir alarvar as iguarias natalícias e não ter que tomar comprimidos e controlar o vomito. Mas ao mesmo tempo penso no Natal passado, onde tive que beber batido de arroz doce e comer sopa toda passada porque não entrava cá mais nada. Lá está, podemos sempre estar pior. Não é que isso me traga um grande consolo, porque o universo continua a gozar à grande com a minha cara.

 

Ontem de manhã vi o Lambard, que me descobriu mais um gânglio no pescoço. Saí da consulta e fui abananada enfiar-me num bloco operatório para pôr um cateter. Correu tudo bem, mas passei o dia todo com vontade de chorar, com vontade de mandar tudo à merda e eclipsar-me deste meu modo de vida. Continuo assim, frágil e forte, em alternância nómada entre as minhas duas metades.



É uma maravilha! Não sinto nada... Quem me dera também ter um enxerto no buço e outro nas virilhas! ;)


Segunda-feira, 19 de Setembro de 2011

Desta vez vai durar três semanas. Além de me cair o cabelo na zona irradiada, terei a pele vermelha e, aparentemente, é só isso. Vamos ver que bem que fico pele-vermelha e meia careca. Começo daqui a uma semana.

 

Entretanto vou ali e já venho...

 

imagem roubadíssima da net

publicado por Silvina às 23:37

Segunda-feira, 22 de Agosto de 2011

Não sei se já disse aqui "publicamente" que ando a dar na morfina mais ou menos desde Novembro. Com doses de cavalo ao inicio (no pós-operatório) e com pico também durante os tratamentos de radioterapia. Assim que senti os efeitos secundários da radio a passarem, diminui a dose. Durante a radio tomava 50mg de 12 em 12 horas, mais 20mg de morfina de "acção rápida" antes de comer. Depois fui diminuindo aos poucos, por minha própria iniciativa. Às vezes fui demasiado bruta na redução das doses e tive que voltar a aumentar; foi toda uma montanha russa jogar com as dores, os diversos medicamentos, a morfina e, sobretudo, os efeitos secundários da morfina, que não são brincadeira.

 

Uma vez perguntei à farmacêutica se podia tomar paracetamol em vez da morfina, por exemplo. Ela riu-se na minha cara (sympa...) e disse-me: "Paracetamol para si é como se fosse açúcar!" E foi assim que descobri que estava mais ou menos "agarrada" à morfina... Desde há uma semana que não lhe toco. Os primeiros 3 dias custaram um bocado. Tive dores, a cabeça pesada, parecia que estava com uma ressaca daquelas lixadas. O corpo também estava mole e lento. Socorri-me com paracetamol, que remédio. Psicologicamente acho que ajudou a diminuir a dor (lá está, como o açúcar em certas ocasiões...). Uma semana depois reparei que a tripa já está a voltar ao normal, deixei de tomar laxantes, e os únicos comprimidos que ainda tomo são a pílula e o ansiolítico, ah e o Ginseng bio de manhã, para ver se engano este corpinho e ele se digna a ter mais energia.

 

Vamos ver até quando é que dura este estado de graça morfina-free.

publicado por Silvina às 22:11

Quarta-feira, 17 de Agosto de 2011

Na semana passada foram análises ao sangue. Hoje foi a punção aspirativa por agulha fina (PAAF), a um novo nódulo que me apareceu há umas semanas na nuca. Quando reparei nele pensei: "Oh não!..." Depois enfiei a cabeça na areia e decidi não me preocupar por uns dias. Não costumo fazer isso, enfiar a cabeça na areia, não querer saber. Mas acho que o medo (terror?) que sinto justificou a reacção incaracterística.

 

Finalmente, depois de algum convencimento por parte de duas amigas, lá me decidi telefonar ao médico e fazer a panóplia de exames que me irão permitir saber. E agir em conformidade. Pode não ser nada, ou pode ser o balde de agua fria mais absoluto.

 

Tenho a cabeça a ferro e fogo. Sou incapaz de sequer conceber passar outra vez pelo que passei em Janeiro e Fevereiro. Não tenho estaleca para mais tratamentos, nem vontade, nem coragem. Por isso este alto vai ter que ser só um gânglio inflamado, que eu, sinceramente, já tive a minha conta.



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