[Antes]
Acordei às 6h da manhã com o estômago a sair-me pela boca, mau-estar, ácido na garganta. Levantei-me às 8h (o que não é de todo meu apanágio) fartinha de me rebolar na cama sem resultado nenhum. Comi, vi um episódio de Greys Anatomy e arrastei-me para a casa-de-banho para um pseudo-spa matinal. Seguiu-se um breve momento de pânico onde quase me faltou o ar, toquei no nódulo na garganta que descobri na sexta-feira e lembrei-me da dor que sinto do lado direito do peito de vez em quando e pensei: "pronto, vou morrer. é desta." Felizmente tinha posto uma playlist no PC a que chamo "banho energético" (que consiste basicamente em música de merda para dançar quando ninguém me está a ver) e no exacto momento em que penso isto o gajo da música canta: "Tant qu'il y a la vie, on a toujours de l'espoir" [enquanto houver vida, há esperança]. "Exactamente", pensei enquanto levantava os braços no ar, abanava as ancas e falava comigo no espelho tentando conter as lágrimas. "Vai correr tudo bem. Vai correr tudo bem."
[Durante]
Escrevo mais uma vez de uma sala de espera. Ainda com algumas dores de estômago. E dificuldade para respirar. Às vezes gostava de ser um mestre zen e desligar a ansiedade como se desliga a televisão. Estou cansada do caminho, mesmo cansada. O médico acaba de me chamar, está na hora do exame.
[Depois]
Respiro a medo. Tenho realmente algo no pescoço, mas segundo este médico radiologista (giraço, por sinal -mesmo na miséria tenho sorte-) é um quisto. Respiro ainda a medo. "Um quisto? Como é que sabe que não é um gânglio? (aponto para a imagem) é aquilo ali? Como é que distingue um quisto de um gânglio? Se calhar é melhor fazer uma ecografia para confirmar..." Pronto, ecografia marcada para 4a feira. Sorrio para dentro contente com o meu poder de persuasão. Aparentemente tenho algum fluido em torno do pulmão direito, mas o Dr. ainda tem que comparar com imagens antigas e só depois do outro TAC que faço daqui a uma semana poderão haver conclusões mais definitivas. Não sai de lá sem perguntar, por via das dúvidas: "Mas... Então quer dizer que no pescoço não há mais nada? Não há mais gânglios?" "Não." Disse ele. Pronto. Sai dali para fora ainda um bocadinho abananada, e a repetir para dentro "não é um tumor. Não tenho outro tumor. Não é um tumor." Só isso já são boas noticias. Ter um quisto também não tem muita piada, mas se fosse cancro era pior. Por isso peguei na bicicleta e rumei à Boulangerie com coisinhas boas ao pé da minha casa, comprei uma patisserie, fui para casa fazer café para acompanhar e deliciei-me, porque eu hoje mereço.
Já meio ratada porque só depois de umas garfadas me lembrei de registar o momento...